Essa é mais uma importante vitória, não resta dúvida, que merece ser muito comemorada. Uma vitória, acima de tudo, do entendimento e do compromisso que governo, empresários, carreteiros e entidades de classe travam para evitar que as graves deficiências da nossa infra-estrutura impeçam o país de continuar firme na sua rota em direção ao crescimento sustentado.
É uma vitória também do bom-senso na medida em que os órgãos rodoviários vão ter um tempo até 15 de dezembro de 2004 para sinalizarem os trechos de rodovias (pontes e viadutos) com restrições de peso ao bitrem de 57t.
É preciso deixar bem claro, porém, que não se trata de nenhum beneplácito ou concessão oficial, tampouco, o fim da luta dos transportadores de carga por melhores condições de trabalho.
O fim da AET para bitrem, para nós transportadores, é acima de tudo a remoção de uma mera exigência burocrática, muito cara e dispendiosa para quem depende de sua obtenção, mas de pouca ou nenhuma utilidade como instrumento de controle da circulação dessas composições ou mesmo da preservação e operação de rodovias.
Na maioria dos casos, as AETs eram concedidas para livre circulação e sem quaisquer restrições de horário ou itinerário. E, ainda que alguma restrição contivessem, de nada valiam diante da insuficiente fiscalização na maioria de nossas rodovias.
Na prática representavam apenas mais uma dessas providências à moda brasileira, úteis apenas para deixar aqueles com alguma responsabilidade sobre o assunto com a consciência tranqüila e a sensação do dever cumprido, não importando o alcance ou não do resultado desejado e a que custo.
Não é isso, contudo, o que precisamos. O que precisamos, de fato, para preservar nossas rodovias, e não podemos mais adiar esse enfrentamento, é de investimentos na quantidade e qualidade necessárias ao atendimento das nossas demandas logísticas e de fiscalização séria e eficaz para coibir, dentre outras coisas, o excesso de peso.
Alguns considerarão uma temeridade liberar a livre circulação do bitrem com 57t de peso bruto total. Temerário, no entanto, é ter apenas três balanças para fiscalizar o excesso de peso em mais de 150 mil quilômetros de rodovias federais. É ter quase 20% dos nossos veículos transportando praticamente no dobro da capacidade de carga.
O que precisamos, pois, não é de AET mas sim de balanças; não é de AET, mas de sinalização dos trechos rodoviários com alguma restrição de capacidade portante; não é de AET, mas de investimento na ampliação e recuperação da nossa malha rodoviária.
Estamos vivendo um novo tempo. Não dá mais para mascarar nem tentar esconder nossas deficiências atrás de uma AET.