Acelerar o corte de juros deve ser a prioridade número um dentre as medidas econômicas do governo após as reformas para estimular o crescimento e o emprego, indica levantamento feito pelo Valor a partir da opinião dos empresários vencedores do prêmio "Executivo de Valor 2017", entregue ontem em São Paulo. Para a maioria dos empresários premiados, a redução dos juros, seguida do incentivo a licitações e leilões de obras públicas, deveria integrar a agenda prioritária do governo. Outra medida apontada pelos empresários é o "destravamento" do crédito por parte do BNDES.
Veja o que dizem os empresários
"A redução da taxa de juros teria um impacto imediato no estímulo ao consumo", afirma Paula Bellizia, presidente da Microsoft e eleita melhor gestora na área de tecnologia de informação e serviços, que pondera que a redução precisa ser feita com parcimônia, "para evitar demanda sem oferta, e o retorno da inflação". A prioridade, defende Paula, deveria ser baixar juro para as empresas, "gerando mais oportunidades e crescimento sustentável", diz.
Para Tito Martins, presidente da Votorantim Metais Holding , a queda dos juros deve vir associada ao rígido controle de gastos públicos, para se evitar o crescimento da inflação. "Com a inflação mais baixa e com os juros em baixa, o consumo interno tende a crescer, naturalmente", afirma.
José Galló, presidente da Renner, maior varejista de moda do Brasil e premiado por sua atuação no comércio, pondera que "acelerar o corte de juros é importante, mas deve ser algo natural, feito de acordo com as necessidades do mercado, não a marteladas", diz. "O câmbio é consequência de uma política econômica equilibrada."
Além de considerar a queda nos juros como condição fundamental para o crescimento econômico, o CEO da Kroton, Rodrigo Galindo, vencedor do prêmio de melhor gestor na área de educação, afirma que o Brasil precisa priorizar o ensino se quiser crescer no médio prazo e elevar produtividade.
"O país precisa entender que não haverá desenvolvimento sustentável sem educação de qualidade".
O copresidente do conselho de administração do banco Itaú, Roberto Setubal, afirma que a agenda do governo está correta e que deve ser equilibrada, com enfoque na queda dos juros "na medida em que for possível", mantendo o controle da inflação e ganho de eficiência nos financiamentos com melhoria do setor financeiro. Para enfrentar a crise econômica prolongada, a estratégia do Itaú tem sido cautelosa, segundo Setubal, com "um pé no freio e outro no acelerador".
Para o presidente da Fibria, Marcelo Castelli, vencedor no setor de papel, papelão e celulose, o país precisa aproveitar o momento de retomada da economia com inflação controlada para reduzir o spread. "É preciso diminuir este gap da taxa de juros para acelerar o crescimento", afirma.
O presidente da Alpargatas, Marcio Utsch, premiado no setor de têxtil, couro e vestuário, diz que o governo precisa priorizar o incentivo ao consumo das famílias. Para o executivo, destravar o crédito no BNDES viria em segundo lugar. "Mais importante é voltar a consumir pela retomada do emprego e pela melhoria do poder aquisitivo", destacou o executivo.
O presidente do grupo de infraestrutura CCR, Renato Vale, diz que acelerar o corte de juros estimula a participação privada nos leilões de infraestrutura para projetos de longo prazo, que precisam de condições de financiamento capazes de viabilizar os empreendimentos. "A retomada do crescimento econômico gerará empregos e em consequência o poder de compra das famílias", afirmou.
Luiz Eduardo Falco, presidente da CVC e vencedor do prêmio no setor de lazer e turismo, diz que o governo vai precisar voltar a incentivar o consumo para voltar a crescer e gerar empregos. "Primeiro temos que passar as reformas, sem as quais nada acontecerá. Depois, acho que vamos ter entrada de capital estrangeiro sem precedentes no Brasil, o que vai trazer investimentos e gerar empregos. Tendo em vista essa sequência, eu estimularia um pouco o consumo", diz.
Para Stefan Ketter, presidente da Fiat, e vencedor no setor de veículos e peças, a redução dos juros deve ser a principal prioridade para o governo depois das reformas. A estabilidade do câmbio também é algo que o preocupa o executivo.
Fábio Venturelli, CEO do Grupo São Martinho e premiado no setor de agronegócio, destaca que o aumento no ritmo de cortes de juros ajudaria toda a cadeia produtiva. Venturelli considera que a adequação dos juros terá efeitos positivos sobre o crescimento e a geração de empregos.
Para o executivo, o destravamento do crédito por parte do BNDES deve ser a segunda medida a ser tomada pelo governo em ordem de importância. O executivo também diz que a realização de licitações e leilões para obras públicas "ajuda na geração de empregos e riqueza num novo paradigma sem corrupção". Diante do prolongamento da crise, Venturelli afirmou que a estratégia da São Martinho foi apostar em "gestão, gestão, gestão".
"Sem dúvida a melhor forma de destravar a economia em curto prazo são as licitações e os projetos de infraestrutura, porque geram renda, estimulam o consumo e, consequentemente, impulsionam a economia", diz Galló, da Renner. "Essa é a questão primordial, porque as demais medidas são consequências desse movimento."
Theo van der Loo, presidente do Grupo Bayer no Brasil e premiado como melhor gestor na área de indústria química e petroquímica, afirma que a realização de mais licitações e leilões de obras públicas, bem como ajustes de câmbio e destravamento de linhas de financiamento do banco de fomento, também são importantes. "Acredito que estas medidas vão ajudar a aumentar a oferta de trabalho, a confiança na economia e o consumo", diz van der Loo.
Paulo Chapchap, presidente do Hospital SírioLibanês e vencedor do prêmio de melhor gestor no setor de saúde, também defende a retomada das licitações e destravamento de crédito para empresas. "No mundo há excesso de liquidez e capacidade de investimentos e é importante destravar isso", afirma.
Para o presidente da WEG e melhor gestor no setor de máquinas e equipamentos industriais, Harry Schmelzer, promover mais licitações e leilões de obras públicas deve ser a principal prioridade para o governo depois das reformas. Para o executivo também é importante destravar o crédito do BNDES para promover o crescimento do país. Além disso, diz o presidente de uma das maiores fabricantes de motores elétricos do mundo, o governo também precisa ajustar o câmbio.
Presidente do Grupo Boticário e premiado por sua atuação na indústria farmacêutica e de cosméticos, Arthur Grynbaum defendeu que a primeira medida a ser tomada após uma aprovação das reformas trabalhista e da Previdência é a reforma tributária, que reduza os encargos e promova a desburocratização dos negócios. "Quando você vê um número de 14 milhões de desempregados, minha visão é de que o país consegue estar melhor equilibrado se tiver capacidade de gerar oportunidades de trabalho para as pessoas", disse.
Didier Debrosse, presidente da Heineken no Brasil e premiado na área de indústria de alimentos e bebidas, afirma que o Brasil precisa reconstruir a confiança para recuperar o consumo e estimular a economia. "O Brasil precisa encontrar uma saída. Em médio prazo, também precisamos dar atenção para a evolução dos impostos e então, chegar a uma estabilidade", afirma Debrosse, que está no comando da operação brasileira da Heineken desde 2013.
Castelli, da Fibria, diz que gestão do caixa e austeridade foram as apostas da companhia para superar a crise econômica. Paula Bellizia, da Microsoft, destaca que a crise torna as empresas mais exigentes em relação ao consumo de tecnologia. "Elas ficaram mais criteriosas quanto a custos, mas ficaram ainda mais criteriosas quanto à escolha", diz a executiva.
Galindo, da Kroton, diz que já no início de 2015 a empresa notou que o crédito escasso ao financiamento estudantil seria um entrave ao crescimento dos negócios, e apostou na criação de crédito próprio para os alunos. A companhia também manteve os investimentos previstos, alocando quase R$ 1 bilhão em investimentos nos anos de 2015 e 2016.
Para 2018, o anseio principal por parte dos executivos é o de que as eleições presidenciais tragam um candidato capaz de criar uma agenda positiva. Ketter, da Fiat, acredita o país precisa de um presidente "integrador". Já na avaliação de Schmelzer, da WEG, o país precisa de um presidente que administre com integridade. "Reduzindo o custo do Estado, aumentando a taxa de investimentos e melhorando a competitividade. "
Silvio Stagni, presidente da distribuidora de produtos de tecnologia Allied e eleito melhor gestor na área de tecnologia da informação, diz que o candidato ideal para disputar a Presidência da República em 2018 deve ser isento de qualquer envolvimento em corrupção, além de ter capacidade administrativa e negocial para aprovar as reformas necessárias ao país.
O presidente da Votorantim Cimentos, Walter Dissinger, afirma que o candidato ideal para 2018 é o "que tenha o Brasil como prioridade e governe para toda a sociedade". No momento, os maiores desafios enfrentados pela Votorantim Cimentos têm sido a menor demanda por cimento e a economia desaquecida, de acordo com o presidente. O executivo conta que a empresa se antecipou a esse cenário, por meio de medidas para obter mais excelência operacional e produtividade.
Amos Genish, Chief Convergence Officer (CCO) da companhia francesa de conteúdo Vivendi e vencedor do prêmio por sua atuação no setor de telecomunicações, diz que duas características são essenciais ao candidato à Presidência em 2018: a capacidade de liderança e de construir consensos. "Essas duas competências, se bem articuladas, devem se traduzir em uma agenda realista para os desafios que o país enfrenta, bem como definir quais serão as ações prioritárias da nova gestão".