Apesar de R$ 200 bilhões para obras, infraestrutura vai piorar no Brasil

Publicado em
23 de Junho de 2018
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Brasil vai continuar dependente de caminhões por no mínimo mais 20 anos

Os quase R$ 200 bilhões previstos pelo governo brasileiro para investir em rodovias, ferrovias e hidrovias são insuficientes para melhorar o transporte de cargas no país no curto prazo. Pelo contrário: até 2025, a infraestrutura vai piorar no Brasil.

O diagnóstico é de um dos principais especialistas em transporte e logística do Brasil, Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística, Infraestrutura e Supply Chain da Fundação Dom Cabral (FDC).

— Mesmo se as obras previstas ficarem prontas, elas são absolutamente insuficientes para a necessidade brasileira. O cenário em 2025 chega a ficar pior. Nós precisamos mais e no longo prazo.

A Fundação Dom Cabral lançou nesta quinta-feira (21) a Plataforma de Infraestrutura em Logística de Transportes, que pretende se tornar a primeira base de dados em tempo real do Brasil cruzando informações sobre investimentos em logística e os esperados impactos sobre o transporte de cargas e mercadorias.

Para prever a situação brasileira em 2025, a ferramenta levantou as principais obras do país e considerou que todas elas serão entregues no prazo determinado. Mesmo com esse cenário “otimista”, a equipe de Resende concluiu que as estradas vão piorar, os modais ferroviário e hidroviário ganharão pouca participação e os custos logísticos, de modo geral, vão aumentar.

“O transporte de cargas só melhora no Brasil se a economia não crescer”, ironiza Resende.

Um olho no hoje e outro no amanhã

A previsão de investir R$ 200 bilhões em infraestrutura foi anunciada pelo governo federal em junho de 2015, durante o lançamento da segunda fase do Plano de Investimento em Logística (PIL).

A expectativa era investir R$ 69,2 bilhões até 2018 e R$ 129,2 bilhões a partir de 2019, sendo R$ 86,4 bilhões para ferrovias, R$ 66,1 bilhões para rodovias, R$ 37,4 bilhões para portos e hidrovias e R$ 8,5 bilhões no setor aeroportuário.

O problema, explica Resende, é que a demanda vai aumentar 40% nas próximas duas décadas, mas pouco vai mudar a forma como atualmente transportamos as mercadorias.

Se atualmente 52,7% das cargas viajam em cima de caminhões, em 2025 e 2035 vai continuar acima de 50% — e com um agravante: o estudo da FDC mostra que mais da metade das estradas brasileiras estarão em condições inaceitáveis nos próximos 20 anos.

Já a participação das ferrovias vai passar de 27,2% para pouco mais de 30%, enquanto o transporte por hidrovias e cabotagem vai reduzir um pouco, mas continuar entre 16% e 17%.

A resposta mais repetida para mudar esse cenário é elevar os investimentos em ferrovias e hidrovias. No entanto, diz Resende, o Brasil vai continuar dependente das rodovias no mínimo por mais 20 anos, o que exige investimentos contínuos em estradas no curto prazo, assim como a diversificação dos modais no longo prazo.

— A produção brasileira está caminhando para o interior, principalmente com o granel agrícola e a mineração, mas o transporte está concentrado próximo ao litoral, então o que vemos é um vazio de ferrovias. E os eventos recentes mostram que não se pode desrespeitar o modal rodoviário. Não podemos romper esse fluxo, sob risco de danos à economia. Mas precisamos ter um olho no curto prazo (rodovias) e outro no longo prazo (ferrovias e hidrovias).

Para o professor, a diversificação é a saída para diminuir a pressão de custos. O cenário ideal é transportar por estradas as cargas de alto valor agregado e baixo peso e, pela via férrea, mercadorias pesadas e de baixo valor.

Se isso não acontecer, caminhoneiros e transportadoras continuarão vendo suas margens de lucro reduzidas, com impactos sobre o preço do frete.

— É preciso parar de apresentar o Brasil como paraíso de investimentos, mas como paraíso da demanda, e com um purgatório de coisas para fazer.

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