Alta do frete deve impactar em R$ 890 milhões a soja de MS

Publicado em
27 de Outubro de 2018
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A alta no custo da logística da soja poderá chegar a R$ 890 milhões neste ano em Mato Grosso do Sul. No País, este montante é estimado em R$ 13,8 bilhões. Os dados são de estudo do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Log USP). Além do tabelamento de preços mínimos estabelecido pelo governo após a paralisação dos caminhoneiros no fim de maio, a falta de vias alternativas para o escoamento de produção tornou os custos de logística da soja brasileira uns dos mais caros no mundo.

Com a dependência quase total do frete rodoviário, os produtores do Brasil e de Mato Grosso do Sul veem-se obrigados a arcar com custos cada vez maiores em rodovias, em sua maioria, com estrutura precária. “O Brasil é um dos países com maior produtividade de soja por hectare, mas o grande entrave é a questão da infraestrutura, que representa 30% dos custos de produção”, explica o consultor de empresas e especialista em mercado exterior Aldo Barrigosse. “O preço médio de tonelada de soja brasileira, hoje, está girando em torno US$ 500 [em torno de R$ 1.843,60]. Desse valor, cerca de 30% [US$ 150, aproximadamente R$ 553,08] fica na cadeia produtiva na parte de infraestrutura, isto é, transporte rodoviário interno, dentro do Brasil. Enquanto isso, nos Estados Unidos, esse custo fica em torno de US$ 30 [por volta de R$ 110,61], cerca de 5% do custo total”.

Segundo o especialista, por esse motivo, os produtores norte-americanos costumam obter lucros superiores aos brasileiros, mesmo com uma produtividade menor. “Nos Estados Unidos, a produção é transportada por caminhão, depois por trem e depois vai pelo rio até o porto. Aqui, tudo depende inteiramente das rodovias, dos caminhões. Falta investimento nessa multimodalidade. É preciso usar o frete ferroviário e fluvial, para que se possa diminuir o valor da tonelada”.

Para a analista-chefe de grãos da Rural Business, Tânia Tozzi, o custo de logística pago pelos produtores brasileiros é, de fato, “exorbitante”, e o tabelamento do frete, imposto pelo governo, vem prejudicando ainda mais o setor. “O custo operacional logístico do Brasil joga uma âncora no agronegócio. Temos uma infraestrutura precária para um país de tamanho continental”, afirma. “A lucratividade fica, cada dia mais, achatada e automaticamente não se consegue mais investir na lavoura. A produtividade média cai e o custo aumenta, é um ciclo vicioso”, complementa.

PLANO DE GOVERNO
Diante da evidente necessidade de investimento em infraestrutura no Brasil e em Mato Grosso do Sul, a reportagem do Correio do Estado conferiu quais as propostas dos dois candidatos a governador de MS para a questão logística do Estado.

O plano do candidato Reinaldo Azambuja (PSDB) fala em “ampliar o uso da hidrovia do Rio Paraguai, modernizando e ampliando a estrutura portuária”, além de “promover a implantação da Rota Bioceânica rodoviária com a construção da ponte sobre o Rio Paraguai” e a “implantação de novos equipamentos de logística, como portos, aeroportos e outros”. Já em relação à malha ferroviária do Estado, Azambuja propõe “apoiar a recuperação e manutenção da operação da Ferroeste com a implantação da Ferrovia Transamericana”.

O programa ainda propõe “a pavimentação e a manutenção das rodovias estaduais e o aumento da conectividade entre as diversas regiões”, apesar de não citar, de maneira mais específica, como e com quais recursos pretende realizar esses investimentos.

Já o plano do candidato juiz Odilon (PDT) é mais sucinto e cita o “desenvolvimento e a implantação da Rota Internacional Latino-Americana (Rila)” como um potencial a ser explorado. Também fala em “direcionar esforços políticos e econômicos para a captação de investimentos que ampliem e modernizem as malhas ferroviárias e hidroviárias”, além de recursos para “melhorar as condições das rodovias que cortam o Estado”. Por fim, o programa de Odilon também fala em “ampliar a capacidade dos portos, em parceria com o setor privado, e cobrar a aplicação dos recursos destinados às melhorias hidroviárias nos rios Paraná e Paraguai”, esclarecendo que esses recursos estão previstos no Orçamento Geral da União.

A analista Tânia Tozzi reforça a urgência do governo, seja quem for eleito – tanto na esfera estadual quanto federal –, em atuar de forma a ampliar as possibilidades logísticas do Estado e do País. “O ideal é que exista um projeto estrutural [para todo o Brasil]. Se não houver planejamento ligando todos os setores de produção, vamos continuar fazendo as coisas sem nenhum plano estratégico, e o resultado disso no bolso do produtor rural é terrível”, finaliza.

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