Agronegócio cobra investimentos do governo

Publicado em
08 de Agosto de 2012
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O Brasil pode ampliar ainda mais sua importância como fornecedor mundial de alimentos e de fontes renováveis de energia, mas empresários e especialistas dizem que faltam investimentos estatais para que isso ocorra.

As críticas ao governo deram o tom de boa parte do 11º Congresso do Agronegócio, realizado em São Paulo, pela Associação Brasileira de Agribusiness (Abag).

"Nossa logística está apagada. Jogamos no lixo todas as oportunidades que tínhamos com relação à obtenção de crédito. Temos um maior volume [de demanda de projetos] e com crédito menor. Para a missão que o mundo reserva ao Brasil, nós vamos precisar muito mais do que isso (do crédito que hoje está disponível)", afirmou o congresso o presidente da Abag, Luiz Carlos Corrêa Carvalho. Ele citou como empecilhos também a alta carga tributária e a falta de projetos no agronegócio.

No segundo debate do dia, "Brasil como ofertante de energia - o que será essencial", o presidente da Cosan, uma das maiores produtoras e distribuidoras de etanol do País, Marcos Lutz, afirmou que o setor sucroalcooleiro passa por uma crise para obtenção de crédito, porque os custos são elevados e o governo não tem um método específico para o cálculo do preço da gasolina. Ele cobrou também investimentos e capacitação tecnológica.

"Fundamental é ter uma regra clara para estabelecer o preço da gasolina. A falta de regras é o maior impeditivo de investimentos mais vultosos [no setor]", afirmou Lutz. A gasolina custa mais que o etanol. No entanto, tem um rendimento maior. Portanto, é preciso que o etanol tenha um preço competitivo em relação à gasolina para que máquinas e veículos sejam abastecidos com este combustível. Lutz acredita que, se o governo não tem uma regra clara para calcular o preço da gasolina, os produtores de etanol não têm condições de fazer grandes investimentos no etanol sem saber se ele será ou não competitivo.

O presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquin, afirmou, por outro lado, que o etanol tem uma carga tributária menor do que a gasolina no Brasil e que o setor passa por uma crise de conjuntura que não deverá afetar seu desempenho no futuro.

Tolmasquin acrescentou que as empresas do setor encontram dificuldades para obter financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para seus projetos porque nem sempre cumprem todas as exigências para obter crédito. "O BNDES tem dificuldade de emprestar porque a empresa está muito endividada ou então precisa apresentar licenças ambientais que ainda não foram concedidas. O BNDES precisa ser cuidadoso no empréstimo porque aquele dinheiro é de todos", disse.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, apresentou em uma palestra as principais oportunidades para os produtores de alimentos e de energia no Brasil nos próximos anos. Ele afirmou que a demanda interna irá crescer, assim como o consumo mundial de grãos e proteínas e o uso dos biocombustíveis. Os preços dos produtos básicos também aumentarão. Para atender a demanda, afirmou Coutinho, o Brasil terá que aumentar o rendimento da sua produção. "O desafio agora é ter mais oferta com ganho de produtividade", disse. Ele também estima que a produção de etanol terá que dobrar até 2030 para atender a demanda.

Coutinho afirmou que as empresas terão que fazer esforços para que possam aproveitar as oportunidades que o aumento mundial de demanda de alimentos e energia irá gerar. "O Brasil já é liderança em vários segmentos do agronegócio. Manter a liderança requer um conjunto de esforços persistentes no tempo. O primeiro e mais importante é inovação tecnológica para ter melhora na qualidade de sementes, melhora na qualidade do plantel de animais para a zootecnia, ter mais produtividade. Segundo: melhorar o produto das operações da agroindústria. Terceiro: desenvolver marca e desenvolver produtos mais processados. Tudo isso requer um fortalecimento da estrutura empresarial", disse.

O presidente do BNDES reconheceu, porém, que não são apenas as empresas que precisarão fazer esforços e que o governo federal deverá anunciar um projeto para melhorar a infraestrutura e a logística do País. "Além disso, o governo tem que fazer sua parte e uma coisa muito importante para o agronegócio será o grande compromisso em alavancar e acelerar os investimentos em logística que serão em breve anunciados e que, esperamos, possam inaugurar um ciclo de grande escala e investimentos no setor de logística no Brasil, em prol do agronegócio em grande medida."

PAC da infraestrutura sai na próxima semana (Correio Brasiliense - DF)

O governo adiou para a próxima semana a reunião com os empresários, inicialmente prevista para hoje, em que a presidente Dilma Rousseff pretende anunciar o pacote de estímulo aos investimentos, que inclui um novo programa de concessões à iniciativa privada na área de infraestrutura e medidas para reduzir o custo da energia elétrica para o setor produtivo.

De acordo com o Palácio do Planalto, o adiamento ocorreu por causa da dificuldade de conciliar a agenda dos quase 30 empresários convidados para o evento, o terceiro encontro, da que a presidente realiza, neste ano, com representantes das maiores companhias brasileiras e estrangeiras instaladas no país.

Dirigentes de empresas que respondem por parcela considerável do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro devem participar da reunião com Dilma, como Vale, Odebrecht, Marcopolo, Embraer, Itaú e Bradesco, além de representantes de entidades de classe, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O adiamento acabou atendendo aos interesses do governo, que está com dificuldades para fechar a conta dos investimentos, diante da queda no ritmo da arrecadação tributária e da pressão do funcionalismo por reajustes de salários. A necessidade de novas medidas de estimulo, no entanto, é cada vez mais urgente diante do pessimismo com o crescimento da economia. Na última edição do relatório semanal Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, os analistas do mercado financeiro estimam que o PIB crescerá apenas 1,85% em 2012, previsão ainda mais baixa que a de apenas 1,9% com que trabalhavam na semana passada.

Tarifa mais barata
A redução do custo da energia é um pedido antigo dos empresários. Eles reclamam que os diversos encargos que incidem na conta de luz, encarecem a produção e tiram a competitividade dos produtos brasileiros diante dos competidores externos. Desse modo, em muitos casos, acaba sendo mais barato importar do que produzir localmente. De acordo com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a desoneração planejada pelo governo deverá baratear a tarifa em mais de 10%.

A grande expectativa em relação às novas medidas está no chamado "PAC da infraestrutura", o novo programa de concessões de rodovias, ferrovias, aeroportos, portos e obras de energia, que visa, ao mesmo tempo, retirar barreiras ao desenvolvimento e elevar a taxa dos investimentos. "Oportunidades não faltam", ressalta Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), que torce por uma presença maior do capital privado em grandes obras.

As ferrovias estão entre os destaques das novas concessões. Para Rodrigo Vilaça, diretor executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), os atuais concessionários também gostariam de uma maior abertura para a iniciativa privada construir novas estradas de ferro, como um novo ramal da Ferrovia Norte-Sul. Segundo ele, também a renovação das concessões atuais poderia envolver investimentos extras na malha já construída.

No setor portuário, os investidores cobram o desbloqueio de projetos privados já conhecidos. Willen Mantelli, presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), reclama da burocracia e da insegurança jurídica gerada por conflitos de legislações. Ele diz que, por conta de problemas desse tipo, os associados da entidade mantém engavetados projetos de R$ 11 bilhões.

Pressão
Os portos também estão na agenda. Ontem, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, esteve reunida boa parte do dia com o secretário dos Portos, José Leonidas de Meneses Cristino. Nos próximos dois anos, estão previstas o vencimento dos contratos de 104 concessões portuárias, das quais 40 são da Transpetro, subsidiária da Petrobras.

A pressão das construtoras é maior sobre os aeroportos. O governo já leiloou três grandes terminais — Brasília, Guarulhos (SP) e Campinas (SP) —, mas recuou na intenção de realizar uma segunda rodada. A expectativa era de que os próximos alvos seriam Confins (MG) e Galeão (RJ). A Secretaria de Aviação Civil (SAC) reafirmou que, por enquanto, o assunto só está sendo discutido pelo governo. Hoje, Dilma deverá acertar detalhes do plano com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.

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