Agregar serviços ou não?

Publicado em
28 de Abril de 2010
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Qual a diferença entre transportar e atuar como prestador de serviços logísticos? Onde começa uma atividade e onde termina a outra? Historicamente, o transporte sempre foi uma atividade ligada à ação de transferir material de qualquer natureza, de um ponto a outro. Já a operação logística incorpora o transporte, porém acrescenta a ele serviços como gestão de estoques, atendimento de pedidos, pré-montagem ou preparação de produtos (como a troca de embalagem de uma mercadoria, por exemplo), entre outros.

Em resumo: a transportadora de carga tem vocação direcionada exatamente para transportar e distribuir, ao passo que o operador logístico tem o seu foco direcionado para a gestão dos processos logísticos, que inclui o transporte. Mas nem sempre esta divisão de atividades foi tão clara assim.

O começo

Pioneiro nos trabalhos de logística no País, José Geraldo Vantine, diretor da empresa de consultoria logística Vantine Powerful Logistics Solutions, conta que as primeiras empresas de logística instaladas no Brasil, no final dos anos 1980, tiveram origem na indústria e nos armazéns gerais. A princípio, cabiam ao operador logístico duas funções: transportar e armazenar.

Esta atividade se expandiu rapidamente no País, fato que na época passou a preocupar as empresas orientadas exclusivamente ao transporte de cargas. "Os transportadores começaram a se sentir ameaçados", conta Vantine. Tanto que, na segunda metade do anos 90, uma série de debates foram realizados na NTC (Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística), questionando se o operador logístico estaria se colocando entre o embarcador e o transportador. "Essa discussão caminhou por alguns anos", relembra o consultor.

Durante aquela "crise de receios" o Brasil atravessava um momento econômico muito significativo: a mudança da moeda de Cruzeiro Real para Real. O período foi impactante para o transporte e para a logística. A partir daí, com a moeda estável, o embarcador ou recebedor, antes habituados a viver em tempos de inflação e de valores constantemente alterados, descobriram quanto realmente custava o serviço de transporte. E passaram a se preocupar mais com o gerenciamento dos custos da empresa. A convergência destes dois fatores (crescimento do
conceito de operação logística e a valorização do gerenciamento de custos nas indústrias) contribuiu para mudar o conceito de trabalho por parte das transportadoras.

Naquele momento, algumas transportadoras passaram a concorrer com o operador logístico, oferecendo serviços de armazenagem em suas filiais, mas com um sério agravante: sem cobrar nada por isso. Aproveitando-se da situação, alguns embarcadores de carga passaram a usufruir dos serviços "extras". E as transportadoras começaram a perder dinheiro. Segundo Vantine, esta fase durou mais ou menos dois anos, até que os transportadores descobriram que estavam fazendo um mau negócio. "Havia custos que não estavam sendo repassados", recorda Vantine.

Arrumando a casa

Diante das primeiras experiências mal-sucedidas, frotistas passaram a ingressar na área de serviços logísticos de forma mais organizada (veja box). "Somente no final da década de 1990 criou-se um modelo ideal, e que prevalece até hoje, para as transportadoras que decidiram atuar na área de logística", explica Vantine.

Segundo os especialistas, as empresas de transporte que queiram trabalhar com serviços de logística devem criar uma subsidiária, pois há diferenças entre as duas atividades. Vantine explica que o que não deve ocorrer é o transportador rodoviário de carga, por exemplo, que naturalmente já tem um problema histórico de composição de frete, fornecer atividades (como serviços típicos do operador logístico) de graça, sem cobrar nada. "Temos visto isso ocorrer, talvez por falta de conhecimento, ou provavelmente por uma visão errada da
estratégia", avalia.

Há quem defenda que a tendência natural das transportadoras é se transformar em prestadores de serviços logísticos. "O frotista deixará de somente colocar a carga no caminhão e transportar", diz Fernando Arbache, professor da Fundação Getulio Vargas (veja Entrevista). "Este ato passará a ser o meio e não o fim da atividade", analisa o professor da FGV. Por sua vez, Vantine discorda desta afirmação. "Sempre existirá a empresa de transporte de cargas", diz ele. "Acredito no crescimento e no fortalecimento destas empresas especialistas, pois há embarcadores que não necessitam do formato de trabalho que inclui a prestação de serviços logísticos", ratifica.

O consultor assegura ainda que os operadores logísticos e os transportadores de carga são mais do que nunca aliados. "Os operadores logísticos não são empresas que imobilizam capital; tradicionalmente eles não têm caminhão, não empregam motoristas, eles contratam transportadores", comenta ele. "Observo esta situação muito mais como uma parceria estratégica do que como uma competição", finaliza.


 
Base sólida



Grupo Águia Branca
Onde: Cariacica, Espírito Santo
Luiz Wagner Chieppe, Diretor de Relações Corporativas

COMEÇO: o Grupo Águia Branca iniciou no ramo de transportes de passageiros em 1946, quando Carlos Chieppe adquiriu o primeiro ônibus, operando no trajeto Governador Valadares a Teófilo Otoni, em Minas Gerais, com a contribuição de seu filho Vallécio. Com apenas dois ônibus, a empresa Auto Viação 13, como era conhecida, atuou, posteriormente, em Colatina, município do Espírito Santo. Nos anos 60, a transportadora já possuía uma frota com 40 ônibus e se consolidou como Viação Águia Branca, a primeira empresa do Grupo.

NOVO DESAFIO: em 1984 a Águia Branca decidiu entrar para o negócio de logística, pois acreditava ter estrutura e um bom serviço no transporte de pessoas e bagagens. "Tínhamos a base, recursos humanos e infraestrutura, então entramos no ramo", diz Chieppe.

ENTRAVES: a principal dificuldade, até 2007, foi a falta de uma regulamentação para a atividade logística. "Isso permitiu a entrada no mercado de empresas despreparadas tecnicamente, gerando má concorrência", comenta Chieppe. "Além disso, enfrentamos uma alta carga tributária", explica ele.

OPORTUNIDADES: a empresa acredita que a vantagem de trabalhar como prestador de serviços em logística é que o Brasil possui extensa dimensão territorial, o que amplia a visibilidade do transporte rodoviário e gera bons negócios.

DIVISÃO DE LOGÍSTICA: no Grupo Águia Branca, a atuação em logística é uma Unidade de Negócio, com a empresa Vix Logística, distribuída em cinco áreas estratégicas. Cada uma delas atua de forma independente, dotando a equipe de capacitação com planejamento e orçamento específicos.

PARA QUEM DESEJA ENTRAR NA ÁREA: "Busque a especialização nos nichos de mercado em que se possa otimizar serviços para ter ganho de produtividade", recomenda Chieppe.
 
 
Na vanguarda



Atlas Transportes & Logística
Onde: São Paulo (capital)
Francisco Martin Megale, presidente

COMEÇO: a Atlas iniciou suas operações em 1952, a partir da visão empreendedora de seu fundador, Lauro Megale, e de seu caminhão Studbaker 1951. No longo caminho, superou dificuldades até se consolidar como uma das mais importantes empresas de transportes e logística do Brasil.

NOVO DESAFIO: em 1995, com o objetivo de oferecer ao mercado serviços logísticos integrados, a Atlas ratificava seu perfil de empresa de vanguarda, importando tecnologia dos EUA. "Fomos o primeiro operador logístico atuando no Brasil a possuir leitura óptica por meio de radiofrequência com controle via WMS", relembra Megale.

ENTRAVES: como grande parte das empresas que inovam tecnologicamente em seus mercados, a principal dificuldade da Atlas, segundo Megale, foi conseguir encontrar clientes dispostos a absorver os custos inerentes a uma tecnologia, naquele momento, de última geração.

OPORTUNIDADES: "Após quase 14 anos de atuação no segmento de logística, fica claro que esta foi uma decisão estratégica acertada", afirma Megale. Segundo ele, a Atlas Logística é hoje um provedor de serviços com alto nível de excelência, viabilizando parcerias duradouras com diversas empresas de referência em seus mercados e capaz de competir no mesmo nível dos principais grupos mundiais deste setor.

DIVISÃO DE LOGÍSTICA: o grupo possui uma divisão independente dedicada a este ramo de negócios, que atua em sinergia com as outras áreas da divisão de transportes.

PARA QUEM DESEJA ENTRAR NA ÁREA: "É necessário que os decisores ponderem qual sua vocação. Após esta análise, o caminho é investir em serviços de qualidade com custos competitivos, o que consequentemente desenvolverá o negócio", aconselha Megale.

Mais conhecimento
 
 

Transportadora Americana
Onde: Americana (SP)
Carlos Panzan, diretor

COMEÇO: Há 68 anos, no setor de transporte de cargas. Carregando o compromisso da constante busca pela excelência, a Transportadora Americana chegou à maturidade com uma marca de qualidade reconhecida no setor de transportes, pelos seus clientes e parceiros. Foi a primeira empresa de transportes da América Latina a certificar-se na ISO 9001:2000.

DESAFIO: "Em 1992, nossos clientes começaram a nos consultar sobre a possibilidade de fazermos a gestão logística completa de seus produtos", relembra Panzan. "Então, em 1994 passamos a oferecer este serviço por meio da TA Logística".

ENTRAVES: "Tivemos que aprender muito. Com o tempo, descobrimos que a atividade de logística era muito mais complexa, envolvendo ações até então desconhecidas. Este foi o motivo pelo qual decidimos identificar no mercado profissionais que pudessem fazer a gestão e serem os multiplicadores deste conhecimento na empresa", comenta Panzan.

OPORTUNIDADES: A empresa iniciou suas atividades na área de logística atendendo às necessidades de um cliente da área farmacêutica. "Com o tempo veio a diversificação e, hoje, temos soluções em vários segmentos, tais como saúde humana e animal, cosméticos, autopeças, químicos, óptica e eletroeletrônico,
entre outros".

DIVISÃO DE LOGÍSTICA: Atualmente, a TA é uma holding, com unidades de negócios independentes. "Deste modo, nossos clientes encontram na empresa solução completa para as suas demandas, não só no transporte rodoviário, mas também na gestão logística com a TA Logística e nas cargas aéreas expressas, pela TA Express e Wind".

PARA QUEM DESEJA ENTRAR NA ÁREA: "Foque os nichos nos quais sua empresa tem competência", observa Panzan. "Especialize-se, treine seu pessoal e dê o suporte tecnológico necessário para fazer a diferença".

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