Acidentes com caminhões - tapando o sol com a peneira*

Publicado em
30 de Abril de 2012
compartilhe em:

Li na Newslog de sexta-feira uma notícia que não agrada em nada aqueles que trabalham com a logística. Trata-se da quantidade de acidentes que envolveram caminhões no país, em 2008. Segundo o texto, que foi originalmente escrito por repórteres do Jornal da Tarde de São Paulo, cerca de 25% dos acidentes que ocorreram nas estradas federais tem envolvimento de caminhões. Para piorar a situação, o texto afirma que a quantidade de mortes em acidentes com envolvimento de caminhões, é sete vezes superior em comparação a acidentes que envolvem apenas automóveis.

Há um certo tempo escrevi nesta mesma coluna sobre a correlação entre a competitividade logística exigida dos operadores de transporte rodoviário de cargas e os acidentes nas estradas. Foi publicada na Newslog em 15 de outubro de 2007 e abordava as questões relacionadas a um acidente de grandes proporções que ocorreu na BR-282 e a competitividade.

Por óbvio que a competitividade exigida dessas empresas é repassada aos que nelas trabalham. Isto ocorre sob os mais diversos disfarces que vão desde um salário excessivamente baixo em relação a aptidão e responsabilidade exigida dos motoristas de caminhão, até o baixo valor de frete pago aos autônomos. Só para relembrar, as empresas de transporte rodoviário de cargas possuem um mercado altamente competitivo por tender a concorrência perfeita e com barreiras de entrada de novos players que na prática inexistem. A regulamentação é pífia e isto ocorre em razão dos interesses dos próprios players. Já imaginaram se a sociedade, farta de tantos mortos nas estradas, exigisse que as empresas de transporte rodoviário de cargas tivessem todos os seus motoristas e veículos monitorados por tacógrafos eletrônicos ou microcomputadores de bordo? E que o controle fosse realizado por autoridades públicas de fiscalização? O pior de tudo é que existe um projeto de lei para regulamentar este tipo de controle, mas que por razões desconhecidas (desconhecidas?), ainda não entrou em vigor. Não seria por temor à evidente jornada excessiva de caminhoneiros (tanto autônomos quanto funcionários de transportadoras)?

O pior de tudo isso é que NINGUÉM dos stakeholders que fazem parte do sistema logístico de transportes do país parece estar preocupado seriamente com este assunto. Quando fazem alguma proposta, não passa de pantomima ridícula e sem efeito.

Pronto, estamos com todos os ingredientes de um bolo explosivo e adivinhem quem paga esta conta?

*Por Mauro Roberto Schlüter

Professor de Logística da Mackenzie Campinas

Diretor do IPELOG

[email protected]

Boletim Informativo Guia do TRC
Dicas, novidades e guias de transporte direto em sua caixa de entrada.