Desde que a executiva Maria das Graças Foster assumiu a presidência daPetrobras, em fevereiro, muitos funcionários passaram a ter medo de atender o telefone. O temor é ouvir, do outro lado da linha, o pedido de uma informação urgente da própria Graça, que passou a ligar para funcionários de patente mais baixa quando executivos não têm a resposta na ponta da língua.
Os telefonemas se multiplicaram nos primeiros meses após sua posse, enquanto Graça comandava um pente-fino na companhia e se preparava para apresentar o primeiro plano de negócios de sua gestão. Na apresentação do plano, em setembro, uma das primeiras páginas dizia: “Historicamente, os projetos da Petrobras atrasam”.
Na projeção seguinte, uma tabela revelava os problemas da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que a Petrobras está construindo em sociedade com a estatal venezuelana de petróleo. Em vez de ficar pronta em 2011, a refinaria só deve ser inaugurada em 2014, com três anos de atraso.
Ao lado da coluna de adiamento de prazos, outra coluna mostrava que o custo inicial da obra, de 2,3 bilhões de dólares, já havia passado por cinco revisões. Agora está em 20 bilhões — nove vezes o original. Na mesma página, uma última linha diagnosticava o problema: “Falhas no acompanhamento físico e financeiro”.
O recado, ao final da apresentação, foi claro. Falhas em projetos como o da refinaria e das inúmeras plataformas que estão atrasadas e com orçamento estourado são consideradas por Graça responsabilidade tanto da Petrobras quanto dos fornecedores. E a ordem, agora, é acabar com o atraso de obras e encomendas e também com a renegociação de preço de contratos.
Com isso, as mudanças sentidas em primeira mão pelos funcionários começaram a chegar também à cadeia de fornecedores da estatal. Segundo fornecedores ouvidos por EXAME, eram aceitos no passado diversos procedimentos para rever preços de contratos. O mais usual: para ganhar uma licitação, uma empresa oferecia um preço artificialmente baixo.
Ganho o contrato, lá vinha o fornecedor pedindo aditivos que, no fim das contas, inflacionavam o preço. Na prática, isso fazia com que os custos se tornassem imprevisíveis e acendia, em muita gente, a suspeita de que as negociações não eram lá muito ortodoxas. Mas as coisas, segundo 14 fornecedores ouvidos por EXAME, estão mudando.
Sem acordo
Para alguns, de forma dramática. A falência da empresa baiana Tenace Engenharia é exemplo disso. Prestes a completar 26 anos na montagem e manutenção de refinarias e plataformas de petróleo, a Tenace fechou as portas em novembro, devendo dois meses de salário a seus 2 800 funcionários. Para continuar lendo esta matéria, clique nos links abaixo: