Artigo publicado por Paulo Roberto Guedes*
É quase comum o entendimento, entre todos aqueles que trabalham com a logística, que os desenhos logísticos tendem a ser mais personalizados e específicos, seja em função do cliente, do produto, da região, da distância ou da complexidade dos mercados, sejam eles de consumo ou de produção, de produtos acabados ou de insumos. Consequentemente, os desenhos das cadeias de abastecimento ou das redes logísticas correspondentes passam a ser muito mais do que um desenho de malha, pois incorporam decisões estratégicas e táticas, empresariais ou nacionais.
É desta forma que a logística e o supply chain, realizados de forma eficiente, propiciam condições reais para que empresas ou países alcancem novos mercados e aumentem suas exportações e suas vendas, posto que colaboram diretamente na satisfação de clientes. É aqui, portanto, que a logística e o supply chain contribuem de forma decisiva para a geração de novos negócios, vindo a integrar, definitivamente, planos de negócios e estratégias competitivas, de países e empresas.
Presume-se, portanto, que a busca continuada de melhoria no atendimento a clientes e às suas cadeias de abastecimento, seja objetivo obrigatório de todos aqueles que participam de mercados cada vez mais concorridos e competitivos. Aos operadores logísticos, consequentemente, criam-se oportunidades e novos espaços para a terceirização desses serviços específicos. Sempre considerando que isso se faça com eficiência, através das boas práticas, respeitando as pessoas (valorização dos recursos humanos) e propiciando rentabilidade.
Por outro lado, são diversas as pesquisas nas áreas de logística e supply chain que comprovam não ser o custo desse serviço, e sim a sua má qualidade, o item mais citado pelos tomadores de serviços logísticos, quando se decide rescindir o contrato com determinado operador. Demonstração inequívoca, portanto, de que a análise de desempenho de um operador logístico está intimamente vinculada ao conceito da relação custo/benefício, sendo a qualidade, item de avaliação tão fundamental quanto o preço dos serviços prestados.
Isso tem forçado as empresas tomadoras de serviços logísticos a buscarem, quase que obrigatoriamente, operadores logísticos qualificados e que prestem serviços com excelência. Exigindo boas práticas de gestão, indicadores de desempenho operacional (key performance indicators – KPIs) e níveis de serviços (service level agrément – SLA) que reflitam, correta e fielmente as operações, esses itens se transformaram em cláusulas pétreas de qualquer contrato entre tomadores e prestadores de serviços logísticos.
Não é por outro motivo que a Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol), dentre as premissas que justificaram sua fundação, não hesitou em afirmar que “as atividades logísticas realizadas com excelência e com foco na melhoria contínua tendem a gerar valor para toda a comunidade. Os ganhos de eficiência e qualidade serão desfrutados por todos os participantes da cadeia de suprimentos, inclusive os clientes finais”. O estudo completo pode ser encontrado em http://www.tecnologistica.com.br/portal/operadores-abol/.
Ao buscar a regulamentação do setor, não só para garantir a segurança jurídica, mas também como forma de melhorar o planejamento estratégico, econômico, tributário, trabalhista e sindical dos operadores, a AbolL contribui decisivamente para aumentar – e garantir – a qualidade dos serviços a serem prestados por suas empresas. Ou, como expressado pelo Coordenador do Núcleo da Fundação Dom Cabral de Infraestrutura, Logística e Supply Chain, e Conselheiro Consultivo da Abol, professor Paulo Resende, “o objetivo principal da formalização e da regulamentação do papel institucional de qualquer função em uma cadeia de suprimentos é transformar o relacionamento baseado em preço para um relacionamento baseado na qualidade”.
Resende ainda complementa: “nesse contexto o Operador Logístico se encaixa como um elemento fundamental no fornecimento de um complexo e variado conjunto de funções que tem como objetivo aumentar a eficiência e a produtividade, contribuindo, sobremaneira, para a criação de valor pela otimização da relação “excelência do produto e excelência do serviço”. É certo que a estruturação e a regulação deste importante segmento econômico propiciarão reais aumentos de produtividade (e consequente diminuição de custos), ganhos de escala, diminuição dos riscos inerentes às operações e sustentabilidade, pré-requisitos indispensáveis para que se alcance desenvolvimento econômico. E a Abol, sem dúvida, é quem deve estimular e promover para que isso aconteça o mais rapidamente possível, não só perante seus associados, mas também junto a todas as demais empresas que compõem o mercado brasileiro de operadores logísticos.
Apenas como ilustração, pesquisa realizada pela Abol e pela Fundação Dom Cabral (FDC), no período compreendido entre 2017 e 2018, concluiu que o mercado de operadores logísticos no Brasil é composto por 269 empresas que faturaram, no ano passado, R$ 81,4 bilhões. Operador logístico, segundo conceito adotado pela própria Abol, é “a pessoa jurídica capacitada a prestar, através de um ou mais contratos, por meios próprios ou por intermédio de terceiros, os serviços de transporte (em qualquer modal), armazenagem (em qualquer condição física ou regime fiscal) e gestão de estoque (utilizando sistemas e tecnologia adequada).”
Diante disso, normas e códigos de qualificação para eventual certificação das empresas do setor passaram a ser objetivo complementar e insubstituível da Abol, pois isto, além de agregar valor ao serviço prestado, ainda dará segurança aos tomadores de serviços, no momento da seleção e da contratação do operador. Para os operadores, será uma forma de diferenciação e aumento de competitividade.
Evoluindo nesse trabalho, e também como forma de se criar um clima de confiança e credibilidade entre empresas, associados e mercado, a Abol desenvolveu estudo específico (Volume 3 – Normas e Boas Práticas do estudo aqui já citado) no qual descreve os itens que tratam das normas de pré-qualificação do operador logístico, do código de boas práticas (inclusive com processo de certificação que ateste o atendimento aos requisitos mínimos estabelecidos e a aptidão para desenvolver atividades logísticas da mais alta qualidade) e de governança corporativa.
O Código de Boas Práticas do Operador Logístico elaborado pela Abol, até por ser o passo inicial na implementação de eventual processo de certificação, tem como propósito a disseminação das melhores condutas, estimulando, quase que automaticamente, operadores logísticos a exercerem suas atividades com excelência, melhoria contínua e transparência, o que, no mínimo, emite sinais de confiabilidade e credibilidade para o mercado e toda a sociedade. Para refletir fielmente a realidade do setor, o código foi elaborado a partir das opiniões e definições encontradas nas entrevistas com operadores logísticos, embarcadores, associações, acadêmicos, especialistas e benchmarking internacional, sempre levando em consideração, as atividades que caracterizam o setor.
Como salientado em recente artigo publicado aqui mesmo na Tecnologística, escrito por Paulo Resende e Cesar Meireles (presidente executivo da Abol), “deve-se ainda, buscar a implantação da Norma de Pré-Qualificação do Operador Logístico (NPQ-OL), para que melhor se veja contabilizado o universo do mercado, e a formulação do Selo de Qualidade e Compliance Abol, visando oferecer ao mercado um plantel de empresas com elevado grau de qualidade e responsabilidade em largo espectro.”
A comprovação e o fortalecimento desse entendimento também são percebidos através de outro trabalho, agora elaborado pela Ernest Young (EY), que conclui que um programa de certificação da qualidade, específico para os operadores logísticos, além dos benefícios já conhecidos por certificações idôneas e independentes, atestaria a resiliência e a confiabilidade das empresas do setor. Na medida em que as empresas estabelecem objetivos claros para melhorias de seus negócios, elas dão visibilidade e direcionam o setor para sua autorregulação.
Ora, no momento atual, e coincidentemente, já se assume que a confiabilidade, a cultura de compliance (proteção contra fraudes, corrupção e suborno) e os programas para diminuição de riscos (reputação, empresarial ou operacional) se constituem em quesitos fundamentais e cada vez mais exigidos por acionistas, fornecedores, clientes, bancos, seguradoras, governo e mercado de uma forma geral. E para atendimento desses quesitos, nada melhor, segundo a própria EY, do que a “equalização de conceito e práticas de resiliência e confiabilidade operacional e administrativa.”
A pesquisa da Abol e da FDC, citada anteriormente, indica que as empresas que compõem o setor já se ocupam com a qualidade e o reflexo disso são as certificações já obtidas por elas. Em questionário específico, respondido por 67 empresas, todas possuem pelo menos uma das seguintes certificações: ISO 9000 (Gestão da Qualidade), ISO 14000 (Meio Ambiente), ISO 28000 (Segurança em SCM), ISO 34000 (Gerenciamento de Riscos), Mapa/SIF (Agropecuária), Anivsa (Vigilância Sanitária) e Sassmaq (Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade no Transporte de Produtos Químicos).
Em complemento a pesquisa ainda mostra que 80% das empresas investem entre 1% a 30% da Receita Operacional Bruta (ROB) diretamente no desenvolvimento de seus funcionários. Mesmo com os terceirizados, 76% das empresas que participaram da pesquisa declararam que investem até 10% da ROB em treinamento e desenvolvimento. Indicação clara de que ter ‘capital humano’ desenvolvido, motivado e comprometido, é premissa dessas empresas na busca da qualidade e da excelência empresarial.
Vale, mais uma vez, citar outro trecho do artigo de Resende e Meireles: “a razão de ser do operador logístico é agregar ganhos de eficiência na operação de seus clientes. Tais ganhos de eficiência são responsáveis por reduções de custos e consequentemente aumento nos níveis de rentabilidade dos embarcadores. No limite, este é o valor que o operador logístico retorna à economia do país.”
Dessa forma os operadores logísticos contribuem, clara, objetiva e concretamente, para a eficiência dos diversos processos de produção e distribuição, para a diminuição do chamado “custo Brasil”, para o aumento da competitividade do produto brasileiro e, consequentemente, para o crescimento sustentável de toda a economia, pois isto, como se sabe, só é possível quando sua economia e seus sistemas produtivos (e, portanto, suas empresas) funcionarem com altos níveis de produtividade. À semelhança de outros segmentos econômicos já mais consolidados, os operadores logísticos também são indutores e estimuladores desse processo de evolução, tendo a Abol um papel de relevante importância.