Estima-se que a colheita de grãos aumentará 5,5 milhões de toneladas em relação ao resultado anterior. Só para transportar esse excedente por rodovias serão necessários 160 mil caminhões. A safra de soja começou. Conforme o previsto, longas filas já se formam nos acessos aos portos. Há poucos dias, quase mil caminhões estavam estacionados nos pátios dos postos de combustível e nos acostamentos das BRs 101 e 280, enquanto aguardavam a oportunidade de descarregar no Porto de São Francisco de Sul. Os prejuízos se acumulam.
A situação se repete em todo o país. A movimentação da safra de grãos atola nas estradas e emperra nos portos de baixa eficiência, a maioria dos quais enfrenta problemas como a falta de dragagem, de áreas de armazenamento, e a dificuldade de acesso terrestre integrado por meio de rodovias e ferrovias. Os alertas, mais uma vez, não foram ouvidos pelo governo, que acaba de lançar um PAC 2, enquanto apenas algumas escassas obras previstas no primeiro foram concluídas e muitas delas sequer iniciadas.
Dos países do chamado Bric, o Brasil é o que tem a pior infraestrutura e o setor de transportes é o pior entre os piores. As ferrovias, de trilhos escassos e equipamentos defasados, sequer alcançam algumas áreas produtoras, como observou a direção da Associação de Comércio Exterior do Brasil, exemplificando com o Mato Grosso, que responde por 26% da produção brasileira de soja e tem "apenas alguns míseros quilômetros de trilhos". Quase 70% das rodovias do país, segundo a Confederação Nacional dos Transportes, continuam em estado péssimo, ruim ou regular.
A entidade estima que, para sustentar a expectativa do crescimento econômico previsto para este ano, o Brasil precisaria de, no mínimo, mais 4 mil quilômetros de estradas duplicadas.
Nos próximos meses, no embalo da movimentação da safra de grãos, esses problemas se intensificarão, aumentando custos, gerando desperdício e frustrando o esforço dos produtores agrícolas.