No transporte de cargas os negócios gravitam em torno de prazos e preços. Melhor dizendo: tempo para realizar um transporte e o preço estabelecido para isso. De uma forma simplificada trata-se de um binômio no qual o prazo faz o preço e o preço faz o prazo. Martelo
Para quem precisa de transporte de forma eventual, nada mais adequado do que ir combinando essas variáveis até encontrar a mais adequada. Para quem faz isso de forma contínua essa prática talvez não seja compatível, pois seria trabalhoso e complexo pesquisar as ofertas de transportes no prazo definido e pelo preço pelo qual se pode pagar.
A questão, portanto é ter esse conjunto de informações permanentemente à disposição para que facilite a decisão. Ocorre, porém, que à medida que nos aproximamos do momento da contratação do transporte surgem questões complementares para definir o prazo e por consequência o preço.
Qual o destino da mercadoria a ser transportada? O Brasil é muitas vezes classificado por regioões geográficas, como sudeste, sul, nordeste, centro-oeste e norte. Mais: qual mercadoria será transportada. Possui embalagem, pode ser movimentada por pessoa ou pessoas ou requer equipamentos auxiliares…
O embarque será feito em local que apresenta facilidade de arrasto por equipamento com rodas os roletes? E na descarga, existem essas mesmas facilidades? Há restrições de horários para as operações, ingresso de certos tipos de veículos. O motorista precisa de qualificação especial para dirigir o veículo especificado?
Nominar os requisitos necessários para o transporte faria com que o binômio inicial se convertesse num extensa lista interminável e igualmente incompleta.
Como resolver isso? O mundo corporativo “descobriu” e assimilou uma prática conhecida por BID. Curiosamente essas tres letras não compõem uma sigla mas trata-se do verbo to bade, bid, bidden e de forma usual, bid para todos os tempos verbais. Significa no original em Inglês: oferecer, convidar e usualmente trata-se de um convite para apresentar lances.
Quem possui cargas (mercadorias) para serem transportadas, organiza uma lista de prestadores de serviços registrados e, que possuem determinadas qualificações e características estabelecidas para o transporte e os convidam para que deem lances, aos moldes de um leilão, do valor pelo qual estão dispostos a transportar. Vence quem oferecer o menor valor.
É de se supor que esses certames, envolvendo diversos prestadores de serviços, aqui no caso transportadores, sejam realizados de tempos em tempos e que, mantidas as condições semelhantes possam ser aproveitados os transportadores selecionados em uma ocasião para outros serviços. Era assim e assim foi durante algum tempo.
Atualmente, com a economia agitada os BID’s acontecem em intervalos cada vez menores. Quem envia um convite para um fornecedor para participar de um BID não o faz pensando em apenas avaliar e comparar os preços que são praticados no mercado.
Quem faz sabe que BID é, na prática, sinônimo de leilão e, quem vende quer o maior preço e quem compra, o menor. Os transportadores encaram a chegada de um BID como um alerta “o gato subiu no telhado” (vindo da cultura popular quando se quer enfrentar uma notícia ruim de forma não explicita… feita em partes).
Participar de um BID significa implicitamente aceitar as condições ditadas pelo embarcador da carga. Trata-se de conhecer os termos de um futuro contrato, de um futuro acordo entre partes para a prestação de serviços e por ser a manifestação da vontade entre as partes, se converte em ato perfeito e acabado para não entrar nas questões jurídicas envolvidas.
Num mercado que emite 1.4 bilhão de CT-e’s por ano (conhecimento eletrônico) ou entre 400 e 600 mil CT-e’s diários (dependendo de considerar os dias corridos ou úteis do mês) vale refletir sobre a dinâmica representada por essas práticas.
Sob o ponto de vista do transportador, ganhar um BID pode representar uma vitória, cujo êxito e longevidade tornam-se cada dia mais imprecisos e instáveis. Para o embarcador da carga, aquele que na maioria das vezes contrata e paga o frete, significa que desta vez foi possível reduzir o valor do frete até o limite possível naquele momento.
Em períodos de economia em crise com super oferta de transporte, margens de lucro muito baixas ou até inexistentes essa dinâmica se impõe como a “lógica do mercado” e sai ganhando quem consegue ter habilidade em enunciar a questão (originalmente do binômio: prazo e preço) com as características mais interessantes para o seu negócio.
Reclamam os transportadores que a infidelidade dos embarcadores nos negócios de transportes são maiores do que nas estatísticas existentes sobre a vida dos casais, mundo afora.
O emprego maciço de tecnologia, especialmente de comunicação está nos conduzindo a um modelo de concorrência que nunca foi utilizada nos transportes de carga, combinando as ocilações e instalidades econômicas com a busca desenfreada pelo aumento de produtividade, unico fator capaz de equacionar essa questão.
O mercado tem leis próprias e dinâmicas. Assim é de esperar que frente a uma economia aquecida (todos tem esperança) não só os BID’s se tornem mais raros e espaçados, como o transporte possa incorporar ganhos de escala, melhores condições operacionais, prazos mais dilatados e certa fidelidade com os embarcadores… “coisas de outros tempos”.