A matemática simples de um sistema de transportes complicado

Publicado em
04 de Novembro de 2013
compartilhe em:

A competitividade logística é construída com planejamento, recursos e aprimoramento de desempenho, dentre muitas outras etapas que a compreendem.

Dados e informações estatísticas são parte fundamental para a realização de um bom planejamento e sem eles, não passa de um chute mal calibrado.

Dados também são importantes quando se trata da regulamentação de funcionamento do SLT (sistema logístico de transportes). Sem eles não é possível mensurar o impacto que uma determinada regulamentação proporcionará no Sistema.

Lembro com certa preocupação quando a ANTT divulgou a lei de restrição de jornada dos caminhoneiros (autônomos ou vinculados às transportadoras). Apesar de estar correta (e tardia), não houve uma preocupação em vincular a perda de capacidade de transporte da carga excedente nos demais modais. O resultado percebido é um arrefecimento no rigor da fiscalização, para que não houvesse um colapso no SLT, que resultaria em impacto político desastroso para o governo.

Certamente alguém do governo deve ter feito a conta (logística e política), para saber o resultado, mas por prudência não a divulgou. Com alguns poucos dados obtidos no site da ANTT e CNT, é possível fazer este cálculo comparativo, cujos resultados são demonstrados abaixo.

 

 

Valor Ton x Km

Valor em %

Matriz modal brasileira (2012)

794.903 (milhões)

100%

Rodoviário (2012)

485.625 (milhões)

61,1%

 

Frota rodoviária

Empresas

Autônomos

Quantidade

1.092.540

912.104

Longo curso (aproximadamente)

400.000 (40%)

380.000 (40%)

Jornada (aproximadamente)

10 horas

12 horas

Perda de capacidade jornada de 8 hs

20%

33%

 

Perda total (aproximada)

 

Perda de capacidade (%)

12,5%

Perda de capacidade (ton x Km)

60.700 (milhões)

 

Para melhor compreensão, o cálculo acima presume:

- um percentual de deflação em razão da dedicação do veículo na operação de longo curso, com possibilidades de excesso de jornada;

- em razão da inexistência de pesquisa científica que aborde a carga horária de caminhoneiros autônomos e vinculados, os dados foram obtidos em reportagens de meios de comunicação e pesquisas informais realizadas pela CNT e deflacionados;

- Foi aplicado um fator de redução para obtenção da perda de capacidade de transporte e arredondado para baixo.

 

Ainda que o resultado seja extremamente conservador, certamente os demais modais não teriam como absorver esta perda de capacidade, seja por falta de veículos, seja por falta de acessibilidade aos pontos de origem e destino.

Esta é apenas a ponta do iceberg em que o SLT se encontra e certamente com mais dados e informações será possível executar um planejamento adequado para o Sistema.

Neste contexto o cenário se mostra promissor em razão da obrigatoriedade de emissão eletrônica de documentos fiscais de transporte rodoviário de cargas (conhecimento, manifesto e recibo de frete carreteiro).

Dessa forma teremos um banco de dados extremamente robusto para execução do planejamento do SLT, desde que haja vontade política para tal.

Por:

Mauro Roberto Schlüter

Professor de Logística da Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas

Diretor do IPELOG

Boletim Informativo Guia do TRC
Dicas, novidades e guias de transporte direto em sua caixa de entrada.