A competitividade logística é construída com planejamento, recursos e aprimoramento de desempenho, dentre muitas outras etapas que a compreendem.
Dados e informações estatísticas são parte fundamental para a realização de um bom planejamento e sem eles, não passa de um chute mal calibrado.
Dados também são importantes quando se trata da regulamentação de funcionamento do SLT (sistema logístico de transportes). Sem eles não é possível mensurar o impacto que uma determinada regulamentação proporcionará no Sistema.
Lembro com certa preocupação quando a ANTT divulgou a lei de restrição de jornada dos caminhoneiros (autônomos ou vinculados às transportadoras). Apesar de estar correta (e tardia), não houve uma preocupação em vincular a perda de capacidade de transporte da carga excedente nos demais modais. O resultado percebido é um arrefecimento no rigor da fiscalização, para que não houvesse um colapso no SLT, que resultaria em impacto político desastroso para o governo.
Certamente alguém do governo deve ter feito a conta (logística e política), para saber o resultado, mas por prudência não a divulgou. Com alguns poucos dados obtidos no site da ANTT e CNT, é possível fazer este cálculo comparativo, cujos resultados são demonstrados abaixo.
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Valor Ton x Km |
Valor em % |
Matriz modal brasileira (2012) |
794.903 (milhões) |
100% |
Rodoviário (2012) |
485.625 (milhões) |
61,1% |
Frota rodoviária |
Empresas |
Autônomos |
Quantidade |
1.092.540 |
912.104 |
Longo curso (aproximadamente) |
400.000 (40%) |
380.000 (40%) |
Jornada (aproximadamente) |
10 horas |
12 horas |
Perda de capacidade jornada de 8 hs |
20% |
33% |
Perda total (aproximada) |
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Perda de capacidade (%) |
12,5% |
Perda de capacidade (ton x Km) |
60.700 (milhões) |
Para melhor compreensão, o cálculo acima presume:
- um percentual de deflação em razão da dedicação do veículo na operação de longo curso, com possibilidades de excesso de jornada;
- em razão da inexistência de pesquisa científica que aborde a carga horária de caminhoneiros autônomos e vinculados, os dados foram obtidos em reportagens de meios de comunicação e pesquisas informais realizadas pela CNT e deflacionados;
- Foi aplicado um fator de redução para obtenção da perda de capacidade de transporte e arredondado para baixo.
Ainda que o resultado seja extremamente conservador, certamente os demais modais não teriam como absorver esta perda de capacidade, seja por falta de veículos, seja por falta de acessibilidade aos pontos de origem e destino.
Esta é apenas a ponta do iceberg em que o SLT se encontra e certamente com mais dados e informações será possível executar um planejamento adequado para o Sistema.
Neste contexto o cenário se mostra promissor em razão da obrigatoriedade de emissão eletrônica de documentos fiscais de transporte rodoviário de cargas (conhecimento, manifesto e recibo de frete carreteiro).
Dessa forma teremos um banco de dados extremamente robusto para execução do planejamento do SLT, desde que haja vontade política para tal.
Por:
Mauro Roberto Schlüter
Professor de Logística da Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas
Diretor do IPELOG