A logística, agora, é de interesse público, por Antonio Wrobleski Filho*

Publicado em
18 de Março de 2013
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A logística deixou de ser tema exclusivo para especialistas e tornou-se objeto de atenção geral. Ou, pelo menos assim, a lógica permite concluir, considerando que a principal necessidade do país neste momento é ganhar competitividade.

A atividade é parte fundamental de um urgente processo de recuperação econômica. Junto com o aumento de investimentos privados, o ganho de eficiência na produção será a alavanca para recolocar o PIB na rota ascendente. E é impossível construir essa equação – que é a única aplicável à realidade atual – sem concentrar esforços para aperfeiçoar a logística.

Estratégica e politicamente, o segmento assumiu um protagonismo que deve ser absorvido com maturidade e responsabilidade para se transformar em ganhos para as empresas e profissionais, além de, é claro, ser revertido em benefícios para a sociedade.

Inicialmente é necessário lidar de maneira inteligente com o fato de que medidas essenciais estão fora do alcance dos responsáveis diretos pelo desenvolvimento e execução do planejamento logístico. Providências estruturais indispensáveis dependem de iniciativas governamentais que envolvem interesses e ideologias eventualmente paralisantes.

É fundamental que a administração pública crie um ambiente favorável para investimentos privados, sem os quais será inviável qualquer evolução. Nesse caso, cabe ao segmento estimular as autoridades, indicar valores e esclarecer o fundamento da parceria, ou seja, investidores esperam ter lucros. E, sobretudo, convencer a opinião pública de que este é o modelo ideal, senão a única alternativa.

A partir disso, apresentar prioridades e exigências técnicas para que a logística seja mais eficiente, pois falta ao Brasil um plano integrado de infraestrutura, que deve ter como objetivo tanto o suporte para a movimentação de produtos como o estímulo à descentralização do desenvolvimento.

Além do planejamento mais apurado, é essencial mais dinheiro. A China, por exemplo, investe por ano cerca de 4% a 5% do PIB em infraestrutura, enquanto o Brasil apenas 0,5%. Segundo um estudo da Associação Brasileira da Infraestrutura (Abdib), para adequar a infraestrutura ao crescimento do país esse investimento deveria pelo menos dobrar nos próximos anos.

É muito dinheiro, é verdade, mas de retorno indiscutível. Além dos benefícios futuros, sabemos que o incremento de 1% nos investimentos nessa área gera, em curto prazo, uma variação positiva de 0,39% no PIB, objetivo imediato do país.

Também é necessário avaliar a atração de financiamento externo. Um estudo da consultoria inglesa Economist Intelligence Unit (EIU) com empresários estrangeiros identificou que 49% atribuem as dificuldades enfrentadas nos seus negócios por aqui aos problemas de infraestrutura. Eles citam fretes rodoviários caros, malha ferroviária insuficiente, portos e aeroportos sobrecarregados e hidrovias inexistentes. É certo que isso prejudica o fluxo de recursos.

E devemos lembrar que o Brasil é um país com renda média, população de 200 milhões de habitantes, democracia consolidada e ambiente econômico que, embora não na velocidade desejada, a cada dia se torna mais favorável. Se tivermos uma infraestrutura de qualidade seremos um dos lugares mais atraentes para investimentos no mundo.

É função dos especialistas demonstrar todo esse potencial até agora não aproveitado e apontar as soluções. Ao mesmo tempo, reivindicar menos burocracia e carga tributária para que o segmento de logística ganhe agilidade e liquidez.

Todos esses alertas e reivindicações, no entanto, devem ser feitos de forma equilibrada, evitando criar oposições, pelo contrário, esclarecendo que o propósito é de união para benefício geral, como de fato é. Cobranças exacerbadas nas circunstâncias atuais vão criar atritos em um diálogo que começa a ficar alinhado e não deve retroceder para debates conceituais.

EMPRESAS
Da mesma maneira, e antes até do que para a política de desenvolvimento nacional, a logística também se tornou prioritária e se popularizou entre as empresas. Companhias acostumadas a equilibrar seus balanços em engenharias financeiras possíveis diante da bagunça monetária vigente até os anos 90 perceberam que havia chegado o momento de serem eficientes. Dentro desse contexto, a logística emergiu como solução. Ficou claro que dentro de todo o processo de movimentação e armazenagem de produtos existia bastante espaço para a diminuição de custos operacionais.

E esse movimento é percebido pelo crescimento do segmento que há alguns anos se mantém três vezes superior ao PIB – inclusive nos períodos em que a expansão foi de 5% –, embora o potencial ainda esteja longe de ser alcançado. Por aqui, apenas cerca de 5% das empresas tratam a atividade com a devida importância, seja por meio de um departamento interno ou da contratação de um operador. No Japão e na Europa este índice é de 30% e, nos Estados Unidos, de 25%.

Esse ambiente oferece uma oportunidade para os operadores logísticos consolidarem seus negócios.

Ocorre, no entanto, que essa perspectiva exige planejamento. Historicamente observamos as companhias especializadas atuando exclusivamente de acordo com as circunstâncias e se adaptando às necessidades imediatas do embarcador, que nem sempre coincidem com os seus interesses. Dificilmente a operação é orientada por estudos mais elaborados, de longo prazo, que analisem as variações econômicas, tracem um plano de negócios próprio e considere os prováveis obstáculos.

É necessário ser mais do que um fornecedor, que atua apenas de acordo com a demanda diária. Chegou a hora de sentar à mesa com os clientes e propor uma estratégia integrada, com transparência de objetivos e alinhamento de esforços. Propor uma relação baseada em parceria, representada, principalmente, na divisão de riscos e resultados. A expansão da operação pode ser compartilhada, unificando estratégias e concentrando energias para os investimentos necessários. Da mesma maneira, as responsabilidades podem ser divididas no caso de ajustes necessários de acordo com as oscilações do negócio. Tudo isso deve estar dentro da realidade, sem prejudicar a saúde financeira dos envolvidos ou azedar relacionamentos comerciais já estabelecidos.

Internamente os operadores devem avaliar quais setores da economia vão crescer mais rapidamente nos próximos anos e demandar seus serviços. Isso vai determinar atuação geográfica, escolha de equipamentos e montante de investimento. Também é importante tomar essas decisões tendo em mente uma carteira diversificada para não depender da bonança de apenas um setor. Empresas de logística do Estados Unidos focadas exclusivamente no setor automobilístico, por exemplo, ganharam muito dinheiro durante anos até a crise de 2008 que quase nocauteou as montadoras. Muitas tiveram que fechar as portas.

Outro fator positivo é a multiplicação das fontes de financiamento. Bancos e fundos de investimento perceberam a logística como uma área promissora e se dispuseram a colocar dinheiro no negócio. Embora essa seja uma excelente notícia, é necessário cautela. A relação entre liquidez e forte aumento de demanda pode levar a investimentos equivocados. Normalmente, a primeira iniciativa é aumentar frotas sem estudo pormenorizado da sua utilidade ou relação com os movimentos da economia. Invariavelmente, após algum tempo, a companhia enfrenta ociosidade ou se dá conta de que possui equipamentos inadequados para atender às demandas do mercado.

Sem dúvida é necessário aumentar a capacidade operacional, mas isso não se dá apenas comprando caminhões pelo menor preço com dinheiro aparentemente barato. Os investimentos devem ser precedidos de análise dos movimentos da economia, potencial dos clientes e, principalmente, da estratégia de negócios da empresa. O crescimento deve ser sustentado, também, por qualificação dos recursos humanos e modernização tecnológica.

O momento, portanto, é muito promissor para a logística e as empresas e profissionais envolvidos com a atividade, adquiriram uma relevância que os aproximou de antigas demandas particulares e têm a oportunidade de serem responsáveis por importante avanço social. Basta, agora, união e uma liderança representativa, com capacidade de diálogo, para transformar o potencial em realidade. 


Antonio Wrobleski Filho 
Presidente e acionista da Support Cargo. Presidente do ILOG – Instituto Logweb de Logística e Supply Chain.
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