A Gestão de Fretes, por Ricardo Gorodovits

Publicado em
18 de Agosto de 2010
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Logweb: Qual a importância de se contratar e administrar fretes?

Gorodovits: Na medida em que uma empresa precisa distribuir produtos, coletar insumos (matéria-prima), transferir materiais, enfim, realizar transportes sem que essa seja sua especialidade ou diferencial, ou ainda, a essência de seu negócio, a contratação de fretes torna-se o caminho natural para o atendimento dessas demandas. O transporte, tal como todo serviço contratado por uma empresa, precisa ser gerenciado de forma a assegurar o atendimento adequado. As dimensões do Brasil e nosso perfil de consumo fazem com que a gestão de fretes ganhe em importância, podendo ser decisiva na lucratividade e no sucesso comercial de nossas empresas.

Logweb: Por que você considera que em grande número de empresas a área de gestão de fretes encontra-se em fase embrionária, quase amadora?

Gorodovits: Precisamos primeiro pensar que o gerenciamento de transportes se encaixa em um processo mais amplo, do crescimento da importância da logística nos negócios em geral. E a logística passou a estar sob os holofotes empresariais bem mais recentemente que outras áreas da indústria. Portanto, é natural que seu desenvolvimento esteja ainda em curso e que as empresas, especialmente as médias e pequenas, persistam em manter seu esforço de gestão em outros aspectos de sua operação. Porém, ao considerar-se o frete como parte da cadeia de suprimentos, percebe-se que sua importância vai bem além da análise de custos, sendo fundamental para viabilizar as estratégias da empresa no que tange a compras e vendas e pode ser determinante para definir margens, prazos e nível de qualidade. Ou seja, ainda que subsistam práticas pouco efetivas de gestão de transportes, às vezes sendo inexistente qualquer esforço nesta direção, a tendência de profissionalização deste segmento é clara e contínua.

Logweb: A melhor solução para as empresas é terceirizar a administração da área de gestão de fretes? Fale sobre a parceria com Operadores Logísticos.

Gorodovits: Não há, a nosso ver, uma solução única e ótima para todas as empresas. Mesmo dentro de uma única companhia pode-se identificar alternativas a serem aplicadas em casos distintos. Apenas como simples exemplo, considere uma empresa que mantém forte e contínuo fluxo de vendas na cidade em que está situada sua central de distribuição, digamos, São Paulo. Porém, no restante do Estado, as vendas se dão em menor volume e frequência heterogênea. E, ainda, as vendas para outros estados são muito poucas, mas a empresa deseja atender também a estas demandas. Não seria estranho que esta empresa optasse por utilizar uma frota própria para a distribuição intraurbana, contratasse o transporte para vendas CIF no Estado de São Paulo e vendesse FOB para os demais estados. Da mesma forma, terceirizar ou não a gestão dos fretes ou alguns de seus aspectos pode ser interessante para algumas empresas, e não para outras. Isso dependerá dos recursos disponíveis (recursos humanos, software, hardware, infraestrutura e assim por diante) e da capacidade de investir em sua obtenção; da cultura da companhia, permitindo que terceiros lidem com dados confidenciais ou não; do foco direcionado a questões estratégicas e consequente facilidade de delegação de elementos de gestão e operação, e assim por diante. O que identificamos claramente é a demanda crescente por esse tipo de serviço, para cuja oferta é imprescindível um alto grau de especialização. Operadores Logísticos, em especial aqueles cujo foco maior se direciona à armazenagem e à movimentação interna, são parceiros naturais dos provedores dos serviços de gestão de fretes quando não detêm know-how para propor este serviço a seus clientes.
 
Logweb: Que ações o embarcador deve tomar para administrar corretamente a área de gestão de fretes?

Gorodovits: Pensando no frete contratado a terceiros, há algumas preocupações que devem se antecipar às demais. A primeira delas certamente é conhecer bem seus processos e as demandas da empresa no que tange à qualidade dos serviços e à capacidade de suportar os custos associados ao nível de serviço desejado. Uma vez conhecidas as demandas sob este prisma, deve-se obter o conhecimento sobre as características de transporte que auxiliarão na contratação correta dos parceiros de transporte, desenhando-se o perfil de carga e distribuição da empresa. A escolha destes parceiros e da negociação de SLA (Service Level Agreement) e condições comerciais deve ser concluída com o estabelecimento de contratos claros e completos. É incrível perceber que, apesar de ser um serviço fundamental para as empresas, a maioria delas não possui contratos com as transportadoras, usando como base de relacionamento apenas uma tabela de preços ou um pedido de compra.

Depois disso, vem o processo propriamente dito: embarque, auditoria financeira e fiscal, acompanhamento e controle de entregas, contabilização, escrituração, avaliação e gestão do SLA, e assim por diante. Uma vez que a área é relativamente nova, todos os dias surgem novas demandas e alternativas, sendo por isso importante a especialização no setor.

Logweb: As empresas ainda relutam em utilizar a tecnologia para melhorar seu processo logístico? Fale sobre.

Gorodovits: Não creio que atualmente as empresas relutem em usar a tecnologia em qualquer de seus processos, a não ser, às vezes, naqueles em que aspectos subjetivos sejam muito prioritá-rios. Há, no entanto, grande dificuldade em avaliar corretamente a capacidade de investimentos, a relação custo-benefício dos mesmos, e isso está associado à dificuldade de perceber as falhas dos processos manuais (muitas vezes apoiados por planilhas) ou realizados por meio de sistemas com soluções parciais. Ainda hoje, mais de 80% das empresas que nos procuram querem melhorar seu processo de auditoria dos pagamentos de frete. Ao mesmo tempo, porém, elas têm dificuldade de estimar o quanto pagam errado às transportadoras e, portanto, que retorno obterão apenas desta funcionalidade. Nossa experiência indica que na maioria absoluta das empresas que não têm uma auditoria sólida, o valor pago a mais corresponde a pelo menos 2% do total do pagamento de frete. É ainda mais complexo quando o foco se desloca para outras funções, como, por exemplo, acompanhamento de entregas. Quanto vale para uma empresa assegurar entregas pontuais, quanto vale obter esta informação (ter entregado ou não) de forma mais ágil? Nem toda empresa é capaz de mensurar este valor.

Logweb: Quais mudanças no relacionamento entre os embarcadores e os prestadores de serviços de transporte ocorreram nos últimos anos?
 
Gorodovits: Houve, de fato, muitas mudanças nesta relação, mas nem sempre na mesma direção. De forma geral, o relacionamento tem se profissionalizado e os serviços têm se sofisticado, sempre na busca de mais eficiência, com redução de custos sem perda de qualidade. Durante muito tempo, no passado, as transportadoras tinham uma posição menos relevante no rol dos fornecedores e provedores de serviços. Hoje têm sua importância reconhecida com mais frequência, mas, ao mesmo tempo, o nível de exigência dos embarcadores é maior.

Logweb: Quais as tendências em tecnologia na área logística?

Gorodovits: Além das novidades que já são conhecidas e que tendem a se disseminar com maior ou menor velocidade (RFID, etiquetas inteligentes, tracking generalizado, picking automatizado e assim por diante), há um conjunto bem interessante de novas soluções sendo estruturadas a partir da existência das notas fiscais eletrônicas, que estarão no mercado em no máximo 6 a 12 meses. Este, inclusive, é um de nossos focos de atenção no momento. Outro projeto, que ainda não podemos divulgar em detalhes, é a criação de painéis de informação integrada, que devemos disponibilizar até o final deste ano. Finalmente, há uma tendência crescente de ambientes de colaboração, em especial entre embarcadores e transportadoras, no que também temos grande interesse.

Logweb: Quais as novas exigências quanto aos profissionais na área de logística? Qual a importância do conhecimento tecnológico?

Gorodovits: Difícil falar de profissionais de logística que hoje estejam distantes do uso da tecnologia. Em nosso dia a dia, percebemos duas lacunas importantes de formação que, espero, possam ser preenchidas em breve: a capacidade e o domínio de ferramentas matemáticas, especialmente visando simulações; e a capacidade de gestão de projetos, que muitas vezes acabam sendo delegados a profissionais de outras áreas, como, por exemplo, a área de TI.

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