São 7.400 quilômetros da origem ao destino. Mais ou menos o dobro da distância entre Porto Alegre e Belém. Os primeiros caminhões já foram e voltaram
Luciano Alves Pereira
A versatilidade do Transporte Rodoviário de Carga vive a esnobar dos ataques dos ferroviaristas e demais ‘rodófobos’. Neste princípio de ano, a IRU (International Road Transport Union – tradicional entidade continental europeia), anunciou o sucesso de seu projeto-piloto de frete rodoviário entre a China e a Europa, mais precisamente a Alemanha. Em sua nota destacou que o sistema TIR, operado pela entidade, “venceu a burocracia de vários países situados na rota e um caminhão MAN passou por diversas alfândegas sem ser molestado”, pelos procedimentos burocráticos ao longo da rota.
Pela avaliação da IRU, esta foi a maior barreira vencida. O cargueiro gastou 12 dias para ir da Alemanha ao porto seco de Khorgos, no sudoeste da China. Levou 12 toneladas de lubrificante automotivo. São 7.400 quilômetros, passando pela Polônia, Belarus, Rússia e Cazaquistão. Interessante é que no trajeto existe malha ferroviária, só que ‘obstruída’ por bitolas diferentes. Há quem pense que esse tipo de obstáculo – falta de interface entre linhas – fosse coisa só do Brasil. Nós que fomos compradores da tecnologia não padronizada dos ingleses nos séculos 19 e 20.
VÁRIAS BITOLAS − A bitola do terminal chinês de Khorgos é a mesma da Europa ocidental: 1,435 m. Para atravessar o Cazaquistão e a Rússia, os vagões têm de rodar sobre 1,524 m. Da Polônia, vindo para a Alemanha e seus vizinhos, voltam a 1,435 m. Os transbordos esticam os tempos comerciais e agregam custos. Enquanto contêineres são transferidos para lá pra cá, os caminhões passam direto.
A IRU lembra que “no ano passado a entidade patrocinou uma pré-viagem-piloto da China para a Polônia, a qual levou 13 dias”. A seu ver, ficou “confirmado o estabelecimento do extralongo corredor rodoviário de carga entre a Europa e a China, representando nova oportunidade para impulsionar/facilitar o comércio internacional”. Reafirma ainda que “os transportes porta-a-porta agora são possíveis no âmbito dos procedimentos TIR entre origem e destino tão distantes”. Mas silencia quanto à qualidade técnica das rodovias.
Pelas estimativas da IRU, a tocada de grande fôlego sobre pneus “custará às transportadoras 50% menos do que o frete aéreo”. Ao mesmo tempo, “economizará 10 dias na entrega, em comparação com o modal ferroviário. O total de 76 parceiros em todo o mundo ratificaram interesse pela operação TIR da ONU e mais de 34 mil transportadoras, com extensão em logística, estão empenhadas no processo para suas transferências d’além fronteiras”, informa a entidade.