A difícil troca do caminhão

Publicado em
19 de Junho de 2013
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O mercado brasileiro disponibiliza uma série de modalidades de financiamento, algumas com taxas de juros de 0,25% ao mês, além de prazo de mais de 100 meses para pagamento. Porém, para conseguir o crédito é importante que o motorista de caminhão trabalhe dentro da formalidade para deixar de ser considerado um cliente de risco

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Trocar ou comprar o caminhão nunca foi uma operação fácil para os motoristas, principalmente os autônomos, que habitualmente esbarram em uma série de entraves burocráticos, que incluem a comprovação de renda, de endereço fixo e ter o nome limpo na praça entre outras exigências para se conseguir crédito. Atualmente são disponibilizadas várias modalidades de financiamento, havendo até casos de taxas de juros atrativas e com bom parcelamento. O grande problema, porém, é conseguir reunir toda a documentação necessária e escolher a opção que não venha a comprometer a planilha de custo do carreteiro.

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Quanto mais novo for o veículo, menor será o desembolso com manutenção, e maior será a produtividade, alerta Lauro Valdivia


O Procaminhoneiro, programa de financiamento criado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), teoricamente é uma das modalidades que mais atendem ao motorista de caminhão autônomo, por oferecer taxas reduzidas e com longos prazos de pagamento, na aquisição de produtos novos ou usados. A taxa de juros de 3% ao ano (a partir do segundo semestre a taxa, é fixa já acertada com o governo federal, será de 4%), o bem pode ser financiado em 100%, o prazo total de financiamento é de até 10 anos, incluindo o período de carência (que pode ser de 3 ou 6 meses) e o cliente utiliza o Fundo Garantidor para Investimentos (BNDES FGI), que complementa as garantias, em até 80% do valor do bem financiamento.O engenheiro Antônio Lauro Valdivia Neto, especialista em transporte e assessor da NTC & Logística, explica que o importante no momento da troca do caminhão é avaliar o valor recebido pela venda, pois veículos cuja diferença entre o valor de aquisição e venda for menor serão as melhores opções. "O planejamento antecipado é essencial. O carreteiro deve lembrar-se que quanto mais novo for o veículo adquirido, menor será o desembolso com manutenção. Consequentemente, a produtividade será maior. Nos primeiros anos de atividade do caminhão, a tendência é sobrar mais dinheiro para pagar as parcelas do financiamento", explica. Quanto à analise dos juros, Lauro alerta para que o carreteiro procure sempre o mais baixo e que caiba no seu bolso ou dentro de suas receitas.

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Cliente com toda a documentação solicitada recebe a informação da aprovação em menos de um dia, diz Agnel Martinez, do Bando Mercedes-Benz


Em relação à liberação de recursos para todas as modalidades de financiamento, em 2011 o BNDES disponibilizou pouco mais de um bilhão, em 2012 este valor caiu para 450 milhões (por causa da retração da economia e a inadimplência) e até abril de 2013 haviam sido liberados 124 milhões. A expectativa, segundo Moret, é de pouco crescimento este ano. "Talvez algo em torno de R$ 600 milhões", estima.Porém, na prática muitos carreteiros dizem enfrentar dificuldades para conseguir o crédito através do Procaminhoneiro. Para Edson Moret, chefe de departamento da Área de Operações Indiretas do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o motorista autônomo tem mais dificuldade de obter aprovação por não conseguir comprovar renda e ser considerado um cliente de alto risco. "Apesar de todos os esforços para formalizar e profissionalizar o setor, ainda vai levar um bpm tempo para que o autônomo ganhe maior credibilidade na hora de conquistar o financiamento", acredita. Moret reforça que o BNDES liberou entre 2011 e abril de 2013 R$ 800 milhões para o Procaminhoneiro e que a modalidade é, ainda, a melhor opção para o autônomo.

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As movimentações do setor são importantes para ajudar o autônomo a conseguir financiamento e trocar de caminhão, opina Ricardo Alouche da MAN Latin America

Hoje, seis das principais montadoras do País podem financiar seus caminhões por meio de seus bancos ou de algum parceiro. Algumas delas deixaram de trabalhar com o Procaminhoneiro ou nem computam mais o resultado da modalidade devido à baixa procura. É o caso do Banco Mercedes-Benz que não opera o Procaminhoneiro, mas afirma que o Finame PSI é bastante procurado para o cliente de varejo, que tem um ou dois veículos. A taxa de 0,25% ao mês é atrativa, mas é necessário que o interessado tenha empresa aberta, está com as certidões em dia, conta em banco e trabalhar na formalidade. "O cliente pode financiar até 90% do valor dando de entrada apenas 10%. Por enquanto o nosso plano é direcionado apenas na compra do veículo zero quilômetro. Porém, caso o governo prorrogue as vantagens do PSI (está previsto para terminar em setembro deste ano) temos a intenção de estender a modalidade para caminhão usado também", afirmou Agnel Martinez, diretor comercial do Banco. Para caminhões usados, atualmente a entidade empresa utiliza a modalidade CDC. Por conta de toda a burocracia imposta ao Procaminhoneiro e baixa acessibilidade por parte dos carreteiros, uma das modalidades que vem sendo bastante procurada é o Finame PSI, que se tornou atrativo a partir do segundo semestre de 2012, quando a taxa de juros ficou em 2,5%. Atualmente está em 3% e a partir do segundo semestre - assim como o Procaminhoneiro - subirá para 4%.

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O Procaminhoneiro tem sido uma boa ferramenta, pois só em 2012 foram cerca de 500 novas operações, afirmou Márcio Pedroso, do Banco Volvo

"Com o fim da carta frete e outras movimentações para regularizar o setor, acredito que em um futuro próximo será positivo para o autônomo, que hoje tem bastante dificuldade de comprovar renda. Este profissional deixará de atuar no campo da informalidade e passará a ter um histórico de movimentação no banco, um cartão de crédito. É um grande passo", acredita.Até o início de 2011, conforme explica Martinez, o Finame PSI não era muito procurado por oferecer taxas de juros altas, em torno de 6 a 7%, mas a partir do segundo semestre de 2012 passou a ser disponibilizado com taxas de até 2,5% (em setembro). Em relação ao tempo para aprovação do crédito, o executivo faz questão de ressaltar que se o cliente estiver com toda documentação solicitada, em menos de um dia ele recebe a informação sobre a aprovação e ressalta que é nesse momento que alguns carreteiros não conseguem atender a todas as exigências.

Para Ricardo Alouche, diretor de vendas marketing e pós-venda da MAN Latin America, na prática todas essas movimentações para regularizar o setor são importantes para ajudar o autônomo a conseguir financiamento e trocar de caminhão. Ele concorda que levará pelo menos uns dois anos para que as novas regras sejam incorporadas por todos envolvidos no setor. As dificuldades aumentam quando o autônomo decide trocar o caminhão por outro usado, pois nesta área o nível de inadimplência é maior. "Ainda que o motorista tenha uma renda pequena, ele terá como comprovar e esse fato gera segurança nas instituições financeiras", afirma Alouche.

Mesmo com todas as exigências impostas ao carreteiro para conseguir crédito, Alouche acredita que o mercado tem boas opções de financiamento. No caso do Banco Volkswagen, apesar de trabalhar com o Finame Procaminhoneiro, a melhor modalidade para os autônomos que se encaixam na condição de micro-empresário tem sido o Finame PSI. "As dificuldades para se contratar o PSI são menores do que as enfrentadas no Procaminhoneiro. Atualmente, 91% de nossas negociações de financiamento são realizadas através desta modalidade. Os outros 9% estão divididos entre CDC e Leasing, que mantém taxas de juros elevadas", explica.

Outra opção oferecida pelo Banco Volkswagen - e que também atende os motoristas de caminhão autônomos - é o Cartão BNDES, que segundo Alouche traz uma série de vantagens para a aquisição de caminhões e ônibus Volkswagen, além de peças originais. Voltado para as micros, pequenas e médias empresas, o cartão consiste em um crédito rotativo pré-aprovado, de até R$ 1 milhão, para compra de produtos credenciados pelo BNDES. Podem obter o Cartão BNDES as MPMEs de controle nacional, com faturamento bruto anual de até R$ 90 milhões, e que estejam em dia com INSS, FGTS, RAIS e tributos federais.

Já o Banco Volvo atua no mercado brasileiro com duas linhas de financiamento, Finame e CDC. No Finame, a instituição trabalha com as modalidades Finame TJLP, Finame PSI e Finame Procaminhoneiro. Nas duas modalidades os prazos chegam a 60 meses e são voltadas tanto para financiamento de caminhões quanto para ônibus e equipamentos de construção", explica Márcio Pedroso, presidente da Volvo Financial Service do Brasil. Além do financiamento, a empresa também disponibiliza o consórcio, com prazos de até 100 meses.

Para Pedroso, o Procaminhoneiro tem sido uma boa ferramenta, assim como o Consórcio. "O Banco Volvo é o banco que mais realizou operações de financiamento na modalidade Finame Procaminhoneiro, entre os bancos de montadoras, desde a criação do produto. Somente em 2012 foram cerca de 500 novas operações nesta modalidade", destacou o executivo.

O Banco Volvo fechou o ano de 2012 com um volume total de financiamentos de 2,1 bilhão de reais em novas operações de financiamento, somando-se todas as modalidades, sendo o Finame a mais procurada. "Acredito os motoristas dispõem de diversas opções de financiamento no mercado, seja Finame, CDC ou Consórcio para aquisição dos produtos. E muito provavelmente um destes produtos poderá atender as suas necessidades", conclui. 

FROTA BRASILEIRA

O mercado brasileiro disponibiliza diversas modalidades de financiamento que teoricamente deveria atender a todo tipo de transportador. Na prática é possível perceber que apesar das taxas de juros atrativas e boas opções de parcelamento, alguns transportadores, principalmente os autônomos, ainda encontram dificuldades para renovar seus veículos. Dados da Agência Nacional de Transporte Terrestre mostram que a frota brasileira, principalmente a que está concentrada nas mãos dos motoristas autônomos, ainda é muito velha. Do total estimado em 1.910.209 veículos, a idade média é de 12,2 anos, em número da ANTT, de maio deste ano. Desse total, 868.210 veículos estão com os autônomos, porém a idade média sobe para 16,4 anos.

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