Em toda a minha vida profissional, atuando como consultor de Empresas de Transporte de Carga, nunca deparei com um quadro de tamanhas dificuldades para uma empresa manter-se viabilizada num meio econômico tão inóspito como este que vivemos atualmente no país. Já enfrentei enormes dificuldades, mas o quadro atual, além de associar uma inflação difícil de controlar, traz consigo a enorme queda do PIB a qual aciona o mecanismo perverso de redução do consumo, afetando diretamente a demanda para a prestação do serviço de transporte de cargas.
Se de um lado fere a atividade industrial afetando como consequência a movimentação de carga, de outro exige uma ação que proteja as empresas do setor do transporte para um posicionamento estratégico que preserve suas conquistas, especialmente as patrimoniais.
Este é um momento em que vicejam opiniões para a convivência com este cenário. É indispensável uma reflexão sobre a anatomia dos elementos que compõe este cenário. O cenário apresenta dois componentes distintos, um deles trata do meio em que a empresa opera o que pode ser definido como o meio econômico, o outro é a própria empresa.
No que diz respeito ao meio econômico não é difícil entender que no âmbito da ação de um profissional do transporte há muito pouco a ser feito, pois a função transporte pertinente ao meio econômico não é causa, mas passiva dos efeitos. Entretanto a empresa, esta sim, é a parcela da crise que precisa ser ativada. Nesta ótica a empresa é quem deve encontrar o formato e a dinâmica de sua operação que seja compatível com o meio em que está inserida. Este é o momento que é requerido dos gestores, versatilidade e domínio tecnológico, que privilegia a capacidade de ajustamento da empresa ao novo perfil do mercado, assumindo uma postura de um verdadeiro enfrentamento para a sobrevivência.
É um momento de muita reflexão acompanhada de ações racionais alicerçadas em um bom domínio técnico para evitar que sejam implementadas medidas precipitadas amparadas por visões e orientações equivocadas. As medidas corretivas precisam respeitar a identidade da empresa resultante de todo o universo que determinam seu modo de operar.
Esta situação deve ser objeto de meticuloso estudo orientado pela necessidade de disposição da empresa manter-se permanentemente numa dinâmica de ajustamento de tal forma que as variações sazonais e especialmente aquelas provocadas pelo humor da economia, tenham seu efeito minimizado. Esta tarefa de permanente ajustamento requer a ação de profissional do quadro de gestão da própria empresa, porem especialmente preparado, de tal forma e que seja capaz de manter ativo um processo de diagnóstico permanente, sempre focado no resultado, pois este é o foco que justifica o investimento na empresa.
Nas situações de dificuldade como a atual é comum ocorrerem o reconhecimento de lideranças, cuja essência está fundamentada na capacidade de influenciar seus pares sem que apresentem a bagagem técnica para orientar os ajustes que eventualmente a empresa esteja carente nestas situações. Neste ponto é importante lembrar que a liderança, do ponto de vista gerencial, resulta da capacidade técnica e do perfil comportamental adequado para sua aplicação, portanto é um efeito e não causa.
As dificuldades pelas quais passam as empresas do setor, certamente será benéfica no sentido de conduzir os gestores da empresa em um contínuo processo de avaliação de desempenho e ajustamento de tal forma que seja preservada sua existência pela manutenção de resultados satisfatórios.
Recentemente foi concluído um estudo de ajustamento permanente da empresa às alterações do meio em que opera. Este estudo não se restringiu a um diagnóstico de um aparente “envelhecimento” das empresas, mas detectou uma desatualização, o que é igualmente grave. Neste contexto, surge a necessidade de ações permanentes de atualização de forma endógena, isto é originado da constatação da própria empresa em tornar-se versátil, orientada pela evolução tecnológica de gestão e nas mudanças do perfil de seu mercado. Também se constatou a necessidade de encaminhamento das mudanças a partir de algo novo na estrutura de gestão da empresa, trata-se do “Agente de Mudança” e foi além, elaborou um projeto de preparo técnico e comportamental deste profissional cuja ação promete aprimorar a dinâmica do processo de gestão. O fato relevante é o afastamento da metodologia do mero treinamento para um plano de trabalho teórico/prático com acompanhamento personalizado.
Os mecanismos preconizados por este projeto distanciam-se de ações dotadas de mera esperteza e com efeito momentâneo, e opta pela estratégia que resulta em efeito permanente alicerçada numa tecnologia de gestão que concilia toda a estrutura da empresa com o meio econômico de cada momento.
Certamente este é um dos momentos mais importantes na história do setor, o qual será lembrado como, o momento em que as empresas deixaram à postura de vítima do caos econômico para tornarem-se saudáveis em qualquer crise que venha interferir em sua existência.
Por:
Mauro Roberto Schlüter
Professor de Logística da Universidade Presbiteriana Mackenzie
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