A arte de comprar um carro usado

Publicado em
07 de Abril de 2010
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Com a volta do IPI sobre os novos e passada a fase do pagamento do IPVA, muitos consumidores optam pelo carro usado. Essa compra requer cuidados específicos. Além do estado do veículo e documentação, toda a atenção é pouca quanto ao financiamento e os valores reais a pagar.         

Com o fim da isenção do IPI para os carros novos, as financeiras voltam-se agora ao mercado de usados, que já mostra sinais de ressurgimento.Quem for comprar um desses veículos - especialmente os semi-novos, perceberá que a loja ofertará todas as facilidades possíveis para o comprador financiar o carro.

A razão é simples: vendendo à vista ou a prazo, a loja receberá o valor à vista da mesma forma. A vantagem de financiar é que a loja receberá uma comissão da financiadora; cujo negócio - afinal - é financiar.

É claro que, para o comprador, financiar é sempre uma tentação: Ele pode comprar um carro sem ter o valor no bolso, pode ficar com o dinheiro na mão, pode comprar um carro melhor do que imaginava pagando parte à vista e financiando o resto.

 

                                       As Aparências Enganam - Atenção aos Números

Além de ter de ser expert em carros para não ficar com um mico (ou levar a tiracolo um mecânico e um funileiro para examinar o veículo na loja), o comprador terá de certificar-se quanto à documerntação e possíveis multas pendentes.

Mas a pior parte e mais ilusória é a financeira.

Entre o valor à vista e o total parcelado, há uma grande diferença imposta pelos altos juros. Quanto maior o prazo, maior será essa diferença, uma vez que a taxa de juros é mensal e se acumula ao longo do tempo.Normalmente, num financiamento em 36 meses, paga-se o dobro do preço à vista - ou mais.    

 

Tabela de Retorno : uma prática comercial escondida que rouba o consumidor

A Tabela de Retorno, praticada por todas as lojas que trabalham com financeiras, configura-se em Crime contra o Consumidor, que nunca é infomado a respeito.

Trata-se de uma remuneração/comissão que a revenda recebe da financeira  quando vende um automóvel a prazo. Essa comissão é embutida nos cálculos das parcelas, varia de 1% a 10% sobre o valor financiado e é tão mais alta quanto mais velho é o veiculo.Então além de altos juros, o consumidor paga também esse "plus" - só que sem saber.

           A "Tabela de Retorno"  é algo praticamente desconhecido pela imprensa e completamente ignorado pelos consumidores.

            A Associação Brasileira do Consumidor descobriu a Tabela de Retorno através de sua equipe especializada em perícia de cálculos  e depois confirmou a irregularidade investigando junto a lojas de carros.

             Essa cobrança se caracteriza como Crime de Consumo, e por isso, é possível se obter na Justiça a devolução desse "plus" em dobro - com juros e correção monetária, além de danos morais.A rigor, todos os que compraram carros via financiamento têm direito a esse ressarcimento.

    

                                               Exploração nas Cobranças das Prestações em Atraso

       Quando atrasa a prestação, o consumidor é mais uma vez explorado, até porque não sabe conferir os cálculos que lhe apresentam. Na maior parte dos casos, ele paga cerca de 15% a mais do que deveria, por conta de cobrança errada dos Juros de Mora; que deveriam ser de 1% ao mês (conforme o CDC) e são cobrados em até 12% ao mês.

 

        O exemplo abaixo compara o modo de cobrar muito habitual no mercado, com o  que deveria ser cobrado, segundo o Código de Defesa do Consumidor. Neste caso, seria uma prestação é de R$ 500,00, a ser paga com 45 dias de atraso.  

COMO  BANCOS  E  FINANCEIRAS  COBRAM  PRESTAÇÕES  ATRASADAS

Prestação

Dias de Atraso

Juros de Mora 12%
(12%) : 30(dias) =  0,40% X 45(dias) = 18%

Multa 2%

Total Cobrado

R$ 500,00

45

R$ 500,00 + 18% = 590,00

R$ 590,00 + 2%

R$ 601,80

COMO DEVERIA SER COBRADO CONFORME CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Prestação

Dias de Atraso

Juros de Mora 1%
(1%) : 30(dias) =  0,033% X 45(dias) = 1,50%

Multa 2%

Total Cobrado

R$ 500,00

45

R$ 500,00 + 1,50% = 507,50

R$ 507,50 + 2%

R$ 517,65

A  diferença cobrada a maior neste exemplo foi  de R$ 84,15 em uma prestação.

Maior parte das Buscas e Apreensões São Irregulares

Estima-se que os agentes financeiros tenham hoje um estoque de 100 mil automóveis tomados de compradores inadimplentes. Eles vendem esses carros em leilões e, não raro, cobram a diferença do comprador de quem tomaram o veículo.

A maioria dos consumidores que perdem seus veículos em buscas e apreensões, os perdem de forma irregular  e sem saber de seus direitos.Conforme vimos acima, além da Tabela de Retorno, os encargos são cobrados de forma ilegal e extremamente abusiva, impossibilitando assim o pagamento da dívida. 

A outra irregularidade está no fato de que o consumidor não é devidamente notificado da mora (via AR ou cartório). 

Como praticamente ninguém é notificado da forma correta, conclui-se que a maioria das buscas e apreensões são ilegais.

Estando inadimplente, o consumidor deve entrar com uma ação revisional, munido de laudo pericial expurgando os juros compostos (ilegais). Nessa ação é oferecido ao juiz o depósito judicial das prestações calculadas pela perícia (menores que os valores do banco).

É fundamental que o consumidor entre com a ação antes que o banco entre com busca e apreensão ou a reintegração de posse, pois, entrando primeiro, pede-se a conexão processual, e a retomada do bem por parte do banco se torna extremamente difícil.

Entrando com ação primeiro, o consumidor mostra sua boa fé, oferecendo o pagamento em juízo, e praticamente anula a perda do bem.

                                                                      Dicas da ABC Para a Compra do carro Usado

A Associação Brasileira do Consumidor (ONG ABC) - atuante há 10 anos na orientação gratuita aos consumidores,  vem trazer suas dicas a todos os compradores acerca de como proceder para não transformar o sonho do automóvel em pesadelo.Recomenda Marcelo Segredo, Presidente da Entidade :

1-Procure comprar o carro à vista, o que lhe permite barganhar e o deixa livre de dívidas.

2-Fazer contas - Se tiver de financiar parte do valor, fique atento a quanto vai  pagar a mais por isso. Faça o vendedor mostrar-lhe detalhadamente todos os fatores que comporão a prestação.Pense se vale a pena.

3-Ler o Contrato - Leia atentamente o contrato  de financiamento. Nele, além dos valores negociados,  há inúmeros outros ítens, como os encargos por atrasos de prestações - por exemplo.

4-Pé no chão- Na hora de financiar, veja claramente o que pode assumir sem correr riscos. Não caia nas tentações das inúmeras  facilidades. Não arrisque pensando que tudo vai melhorar no futuro e que vai pagar as prestações "com um pé nas costas". 

5-Despesas - Para saber com que prestação pode arcar, considere que o automóvel traz manutenção, despesas com combustível,  IPVA, Seguro Obrigatório, Licenciamento,  Seguro do próprio automóvel e eventuais multas.A ABC sugere que você arque com uma prestação igual à metade do dinheiro que acha que vai reservar mensalmente  para gastar com o automóvel.  

6-Pesquisar - O custo de um automóvel na compra é a soma do seu valor real mais os juros bancários, mais as taxas e outras despesas que envolvem o financiamento. Pense se o valor do automóvel á vista é competitivo e se os juros estão numa boa faixa de mercado. Faça as contas e verifique se está realmente ciente de tudo o que está sendo cobrado.

7-Menos por Mais - Lembre-se: financiamentos muito longos significam que você pagará mais juros (quanto mais tempo, mais dinheiro gasto com juros) e que poderá  estar com um automóvel velho quando terminar de pagá-lo.

8-Contratos: Leasing ou Alienação Fiduciária ?

O leasing é como um aluguel, pelo qual se paga mensalmente e, ao final, o comprador torna-se proprietário. Havendo inadimplência, é possível devolver-se o automóvel, com  direito a receber de volta os valores pagos a título de Valor Residual Garantido (só se consegue isso através de ação judicial). Sem essa ação, os valores até então pagos ficam com banco a título de pagamento pelo aluguel do período utilizado. 

A Alienação Fiduciária dá ao financiador o próprio automóvel como garantia da dívida e não permite que o consumidor devolva o bem e receba parte do que foi pago de volta. Se tomado, o veículo é leiloado, por cerca de 50% a 70% de seu valor de mercado. O restante do valor total é cobrado do comprador pelo banco. Ou seja; o consumidor fica sem o automóvel e ainda tem de pagar essa diferença ao banco.   

9-Inadimplência - Se perceber que está caminhando apara a inadimplência, procure a financeira e proponha por escrito um acordo que adote prestações que possa pagar. Mas veja as contas: não poderá haver um aumento significativo no valor total do financiamento, porque assim você pagará muito mais caro pelo mesmo automóvel ou não conseguirá pagar.  Caso a proposta de acordo não seja aceita, guarde a resposta por escrito.

10-Solução - Procure orientação especializada para lidar com a inadimplência que está por chegar. Existem várias soluções possíveis. A única que não resolve o problema é aceitar um caro refinanciamento, que vai embutir inúmeros custos novos e pode lesá-lo ainda mais.

11-Garantia: 90 dias de garantia para o carro (conforme a Lei), e não apenas para o motor e o câmbio.

12-NF e Contrato : Exigir no ato da compra uma cópia da Nota Fiscal e do Contrato de financiamento (caso venha a financiar), pois a NF também é essencial para provar as responsabilidades sobre multas.

13-Histórico: Relatório completo do veículo (fornecido pelo DETRAN), que demonstra todo o histórico do veículo, quantos proprietários já o tiveram, quantas vezes já foi financiado, se existem pendências com IPVA, Seguro, etc.

A Associação Brasileira do Consumidor  (Ong ABC)  atende e orienta gratuitamente todas as pessoas que se sintam lesadas por financiadores, credores, prestadores de serviços, estabelecimentos comerciais, fabricantes ou importadores de produtos e órgãos públicos.

Essa é a missão da  Entidade há 09 anos, no sentido de fomentar o exercício da cidadania e de desestimular ações lesivas à economia popular.

No campo do financiamento de veículos, a  Ong ABC tem  conseguindo  vários ganhos de causa aos consumidores.

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