5% das empresas planejam sucessão

Publicado em
12 de Abril de 2010
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Proprietários de empresas familiares não planejam a sucessão de seu negócio. De cada 100 empresas, 5 têm um plano sucessório, segundo levantamento feito com companhias de todos os portes, em 2009, pelo Núcleo de Estudos de Empresas Familiares da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Pelo estudo, 78% da diretoria dessas empresas é formada apenas de membros da família. Do total, 38% organizam a sucessão apenas após a morte do fundador.

A ausência de planejamento, explica Eduardo Najjar, responsável pelo levantamento, deve-se à crença de que nada de grave acontecerá ao proprietário. Boa parte dos donos também adia a programação para evitar enfrentar problemas na família, como disputa entre os herdeiros ou falta de aptidão dos filhos para gerenciar o negócio.

Najjar aponta outra razão. "Muitas vezes o fundador passou por dificuldades para construir a empresa e não quer que seus filhos sofram", esclarece.

Conflitos de interesses dos acionistas, decisões embasadas em motivos emocionais com pouco conhecimento em gestão e briga pelo poder entre os herdeiros são os principais entraves ao planejamento sucessório formal, segundo o consultor Mário Ambrósio, da auditoria Crowe Horwath RCS, especializada em procedimentos contábeis, fiscais e trabalhistas.

Entraves
Estimativas internacionais da FBN (Family Business Network), organização que reúne empresas familiares de 45 países, indicam que falhas na sucessão correspondem a 60% dos casos de insucesso na manutenção do negócio.

"Sem um plano, elas começam a ter problemas na segunda geração e chegam à terceira sem condições de continuar. Morrem ou são vendidas", assinala Marcos Siqueira, gerente-executivo da FBN no Brasil.

De outra área

Mas nem todo processo de sucessão é formalizado.
Quando o fundador da Miropel, papelaria e importadora de velas pirotécnicas, Mayer Harari, 88, ficou doente, há três anos, a filha Karina, 42, assumiu o controle do departamento de vendas e marketing, abrindo mão da carreira em assessoria de imprensa, na qual atuou por 14 anos.

Por vezes, os herdeiros abandonam suas profissões -frequentemente em área distinta da exercida na empresa. Enfermeira por dez anos, Dirlene Vicente, 45, largou o trabalho para assumir uma das lojas da família. "Não me arrependo", diz.

Atual perfil da família acentua problema de escolha de gestores

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A mudança do perfil das famílias provocou uma alteração na sucessão de empresas.
Com maior frequência de divórcios no país e ocorrência de novos casamentos, características bastante acentuadas nos últimos 20 anos, há cada vez mais herdeiros.
Nessa nova configuração, a divisão do patrimônio fica mais complexa, diz o advogado Miguel Silva, especializado em direito empresarial.
Ele destaca que nem sempre o primeiro casamento termina bem. Por vezes, acrescenta, há mais herdeiros que espaço para sucessores. E o proprietário ainda tem de lidar com os casos em que os filhos não têm um bom relacionamento entre si.
O professor da ESPM Eduardo Najjar tem outro exemplo de como a nova configuração familiar pode comprometer as atividades e a lucratividade na empresa.
Segundo ele, uma companhia na Bahia perdeu um dos herdeiros em um acidente de motocicleta. Pouco depois, a família descobriu que o empresário tinha um filho fora do casamento, que recebia pensão alimentícia.
Após a morte, a mãe desta criança conseguiu, por meio da Justiça, embargar as vendas da empresa por três meses a fim de assegurar o patrimônio a que seu filho tinha direito.
Para evitar conflitos de qualquer natureza, o advogado orienta a definir bem entre todos "o que é família e o que é sociedade". "A confusão entre os limites das duas é péssima e gera conflitos na empresa", afirma Miguel Silva.
Quando há um planejamento e a determinação de responsabilidades no negócio, as chances de problemas se diluem.
(BB)

 

Preparar mudança em vida preserva patrimônio

Sucessão de empresa pode ser feita sem o afastamento do fundador

COLABORAÇÃO PARA FOLHA

O ideal é planejar a sucessão e acompanhar o trabalho de quem vai assumir a empresa. De preferência, orientam consultores, quando ela não está passando por crises para não haver perda de patrimônio (leia mais no quadro ao lado).
"A Constituição e o Código Civil oferecem ao empresário base legal para que ele realize a passagem da direção em vida sem que se distancie dela", explica o advogado Miguel Silva.
É o que foi feito na rede de escolas de idiomas Yazigi. Criada em 1950, a franqueadora está hoje na segunda geração.
O fundador, Fernando Silva, ficou no comando por cerca de 30 anos, com auxílio do irmão, Itamar. Foi sucedido pelo filho Ricardo Young Silva, que permaneceu no cargo por 15 anos, até 2004.
Quando Ricardo se afastou para dirigir o Instituto Ethos, foi substituído pelo primo, o atual presidente, Alexandre Gambirasi, 40, filho de Itamar.
Eduardo Najjar, da ESPM, ressalta que importante é solucionar problemas comportamentais. "O empresário não resolve as questões familiares e nem faz um plano sucessório, por medo de ser considerado obsoleto na empresa."
Esse não foi um temor do chefe Raimundo de Oliveira, 65, dono do restaurante Montechiaro, criado em 1974.
A princípio, nenhum dos três filhos quis gerenciar a cantina. Até que um, Daniel de Oliveira, 31, formado em publicidade e propaganda, se aventurou.
Fez cursos de gastronomia e, desde 2002, assume gradualmente a cozinha.

 

OBSTÁCULOS

Conheça as dificuldades mais comuns na transição

Problema: falta de planejamento e preparo do sucessor
Solução: o sucessor deve receber treinamento de gestão e atuar um período fora da empresa para ter experiência sem a tutela da família

Problema: ausência de interesse dos herdeiros
Solução: é preciso encontrar alguém apto, mesmo que não seja filho do fundador

Problema: interferência dos fundadores na nova gestão
Solução: o dono precisa dar crédito ao novo gestor

Problema: disputas pelo poder entre outros membros da família
Solução: estabelecer conselhos de família com representantes dos acionistas

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