’Caixa-preta’ de guindaste que caiu em estádio é entregue para perícia

Publicado em
04 de Dezembro de 2013
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Dados operacionais da máquina serão analisadas, disse delegado do caso. Operador do aparelho deverá ser ouvido nesta semana pela polícia em SP.

 

Kleber TomazDo G1 São Paulo

 
 
Vídeo com momento da queda de guindaste na Arena Corinthians (Foto: Marcio Antônio Campos/VC no G1)Vídeo com momento da queda de guindaste na
Arena Corinthians (Foto: Marcio Antônio Campos/
VC no G1)

A “caixa-preta” do guindaste que tombou com parte da cobertura da Arena Corinthians, em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, matando dois operários na semana passada, foi retirada nesta segunda-feira (2) pelos fabricantes do veículo e entregue a perícia da Polícia Técnico-Científica para análise. A informação foi confirmada na manhã desta terça-feira (3) aoG1 pelo delegado Luiz Antonio da Cruz, titular do 65º Distrito Policial, Artur Alvim, que investiga as circunstâncias, causas e eventuais responsabilidades pelo acidente.

“O HD [disco rígido] do guindaste foi retirado pelos alemães fabricantes do veículo [Liebherr] e entregue para a perícia do IC [Instituto de Criminalística]”, disse o delegado Luiz Antonio da Cruz. No equipamento constam informações das operações realizadas pelo guindaste.

Além da Polícia Civil, peritos do IC da Polícia Técnico-Científica apuram o caso para descobrir, entre três hipóteses prováveis, se o que o ocorreu foi causado por falha humana (do operador do guindaste), mecânica (devido algum problema da máquina) ou do terreno (pela inconformidade do solo, que teria tombado o aparelho). A perícia irá analisar os dados do guindaste modelo LR 11350, chamados pelos policiais de “caixa-preta”, para saber o que ocorreu na tarde da última quarta-feira (27). Também será periciado o vídeo que gravou o momento da queda da máquina.

De acordo com investigadores ouvidos pela equipe de reportagem, peritos deverão fazer uma cópia do disco computadorizado do guindaste para entrega-la aos representantes alemães da fabricante da máquina. Um aparelho na Alemanha poderia decodificar os dados armazenados.

O guindaste foi fabricado pela Liebherr Brasil, empresa de origem alemã. Apesar disso, a máquina pertence a Locar Transportes Técnicos e Guindastes Ltda, que disponibilizou o aparelho e o operador. As duas empresas não foram localizadas pelo G1 nesta terça para comentarem o assunto.

MAPA desabamento Arena Corinthians (28/11) (Foto: Editoria de Arte/G1)

José Walter Joaquim, de 56 anos, era o operador do guindaste no momento do acidente. Ele operava o aparelho que suporta uma carga de 1,5 mil toneladas. Içava uma peça de 420 toneladas quando a estrutura e o guindaste tombaram sobre parte do estádio, atingindo dois funcionários, por volta das 13h.  O motorista Fábio Luiz Pereira, de 41 anos, e o montador Ronaldo Oliveira dos Santos, de 43, morreram esmagados pela peça. Eles trabalhavam para empresas terceirizadas. A construção do estádio está sendo conduzida pela parceria entre a Odebrecht e o Corinthians.

Segundo policiais civis ouvidos pela equipe de reportagem, Walter Joaquim deverá ser ouvido na quinta-feira (5) pela manhã no 65º DP para dar esclarecimentos sobre o acidente. Apesar de ser investigado, o operador do guindaste irá prestar depoimento inicialmente na condição de testemunha. Os investigadores alegam que é prematuro apontarem suspeitos sem ainda terem o resultado dos laudos técnicos dos peritos a cerca das causas do acidente.

“O currículo do operador tem inúmeros certificados. É um depoimento importante para sabermos o que ele irá relatar que ocorreu no momento em que operava o guindaste”, disse o delegado Antonio da Cruz.

G1 não conseguiu encontrar o operador do guindaste nesta terça-feira para comentar o assunto.

Nesta terça, a investigação pretende conversar com mais duas testemunhas: um operário da obra, que integra a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), e um engenheiro de obras da Odebrecht, que deverá levar uma lista com os nomes dos outros trabalhadores que estavam no estádio no momento do acidente. Investigadores deverão ir nesta semana ao canteiro de obras para tentarem falar com esses empregados.

Até agora cinco pessoas foram ouvidas: três funcionários da Odebrecht e dois policiais militares que atenderam a ocorrência.

Obras retomadas
As obras no estádio do Corinthians foram retomadas na segunda-feira depois de um luto de cinco dias que interrompeu os trabalhos. Funcionários fizeram uma homenagem aos companheiros mortos: eles rezaram antes de iniciar os trabalhos. O ex-presidente alvinegro Andrés Sanchez e um padre participaram do ato.

Apesar disso, 5% da construção que foi atingida pela estrutura e pelo guindaste continuam interditados pela Defesa Civil. Peritos do IC trabalham em buscas de indícios do acidente no local. Além disso, na quinta-feira (28) técnicos do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) vetaram o uso das nove gruas e guindastes em uso pelos funcionários. Os procuradores querem que a construtora Odebrecht mostre que não há riscos para os trabalhadores de um novo acidente.

Diante disso, a Odebrecht informou que desde então estão sendo realizados trabalhos de revestimentos de paredes, pintura e instalações elétricas e hidráulicas. Cerca de 26 mil cadeiras já foram instaladas nas arquibancadas e o trabalho continua.

A empresa diz que, nos três níveis de subsolo do prédio, os trabalhos já estão praticamente concluídos. As atividades também prosseguem no gramado com manutenção, fixação de fibras sintéticas e instalação dos sistemas de resfriamento da grama.

O Ministério Público Estadual (MPE) também apura as causas dos acidente na esfera cível. A Promotoria de Habitação e Urbanismo analisa a possibilidade de embargar a obra.

Corpo é retirado de local do acidente no estádio do Corinthians em São Paulo. (Foto: Eduardo Viana/Lancepress/AFP)Corpo é retirado de local do acidente no estádio do Corinthians em São Paulo. (Foto: Eduardo Viana/Lancepress/AFP)

Especulações
A retomada da obra no estádio do Corinthians foi cercada por uma nova rodada de especulações sobre as causas do acidente e sobre o impacto do problema no cronograma de entrega do estádio.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon) e deputado estadual, Antonio de Sousa Ramalho, voltou a Itaquera e reafirmou que mantém a versão de que um funcionário teria relatado problema no guindaste.

Na semana passada, a Odebrechet negou a versão do Sintracon e afirmou que o sindicato de Ramalho não representa os trabalhadores. O sindicalista, apesar de não saber informar quem é o representante do Sintracon na obra, disse que 11 entidades representam categorias diversas na obra e que sua entidade é uma delas.

Também nesta manhã, o presidente da Associação Brasileira de Engenheria e Consultoria Estrutural (ABECE), Jeferson Dias de Souza, acompanhou a retomada dos trabalhos e disse que o cronograma deve ser alterado. Entretanto, ele não soube informar de quanto tempo será o atraso. De acordo Souza, a ABECE acompanha as investigações de forma informal.

Tanto Odebrecht quanto Corinthians não divulgaram uma estimativa oficial do impacto do acidente no cronograma da obra e da entrega do estádio.

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