(Educação é imprescindível, não importa se estamos querendo resolver problemas econômicos, políticos ou sociais)
Paulo Roberto Guedes – 05 de Maio de 2017
Da política à economia, da saúde à segurança pública, da infraestrutura à urbanização ou da corrupção ao excesso de burocracia, há diversos – e gravíssimos - problemas para serem resolvidos no Brasil atual.
Eu, particularmente, tenho utilizado este espaço para comentar alguns dos temas que julgo importantes e com os quais tenho maior proximidade. E ao falar sobre economia e logística, por exemplo, quase sempre cito a baixa produtividade como um dos principais obstáculos para que o País alcance mais rapidamente o desenvolvimento (1). Consequente e naturalmente, melhorar a educação, capacitar pessoas, investir em pesquisa e desenvolvimento e estimular a inovação transformaram-se em fatores imprescindíveis para que esse obstáculo seja superado (2). Mas, vale relembrar, quando se trata de Brasil, que a incompetência no manejo desses itens tem tornado essa trava quase que ‘intransponível’. Mesmo apesar de, ao longo do tempo, muito se discutir a respeito e diversas soluções serem apresentadas.
Maior integração entre a empresa e a escola, para que esta última, além do relevante papel na educação dos jovens, também produza conhecimentos voltados à produção e à organização do processo produtivo, tem sido uma dessas soluções. E desde o ensino médio (3), pois é importante mostrar ao aluno, principalmente o adolescente, que ir à escola pode ser uma atividade prazerosa, agradável e, ao mesmo tempo, produtiva, na medida em que estará contribuindo de forma efetiva para a sua formação e seu futuro. Pessoas que na sua juventude tiverem educação de qualidade terão maiores probabilidades de aprenderem melhor suas profissões e concluírem seus cursos de forma mais consistente e compatível com as reais necessidades do mundo moderno. Ao se transformarem em instrumentos de aumento da produtividade e da produção, esses profissionais, mais capacitados e competentes (4) naquilo que fazem, também se transformarão, eles próprios, em agentes de mudança.
No setor privado, por exemplo, diversos são os movimentos no sentido de se criar programas que tem o objetivo de aprimorar e aperfeiçoar o conhecimento de jovens. Um dos exemplos de sucesso é a Fundação Estudar, criada pelos empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira (5). Segundo Sicupira, o jeito encontrado por eles pode ser resumido na seguinte atividade: “descobrir pessoas que tenham capacidade de fazer mais do que estão fazendo e impulsioná-las, pois esta é a estratégia de perenidade das nossas empresas, porque as circunstâncias mudam, os mercados se tornam mais competitivos e, para se manterem no topo, é preciso ter gente cada vez mais capaz”. Em resumo é preciso implantar nas empresas, uma “Cultura da Excelência” que, para esses três empresários, nada mais é do que tornar os jovens brasileiros “conscientes de que existe um mundo eficiente, produtivo, construtivo, em que as diferenças ajudam multiplicar em vez de dividir”. Ao aprenderem isso e melhorarem suas próprias vidas, esses novos profissionais poderão, inclusive, “reproduzir esses valores em outros lugares” (6).
A Fundação Nacional da Qualidade (7) também foi criada com missão semelhante. Sua missão consiste em “disseminar os fundamentos da excelência em gestão para o aumento da competitividade das organizações e do Brasil”. Como dito pelo ex-presidente da FNC, Ricardo L. César: “Todas as organizações são feitas por pessoas e, se nós entendermos que isso é uma verdade, e essa tem sido uma grande diretriz do século XXI, então o importante é ter pessoas capacitadas, motivadas, comprometidas e valorizadas dentro da organização. O resto elas farão. Nesse sentido, não podemos esquecer que a liderança de uma organização também é feita por pessoas que precisam estar preparadas e motivadas para enfrentar desafios”.
Entretanto, embora parecendo óbvio que programas que visem a ‘excelência’ operacional ou quaisquer outros que busquem o aumento da produtividade, fazer “bem desde a primeira vez” ou de melhoria da qualidade dos processos produtivos e dos produtos, bem como a disseminação e a difusão automática de cada um desses programas, entre todos os funcionários das empresas, vindo a fazer parte do “dia-a-dia” de cada um, uma vez que somente com comportamentos e propósitos comuns os resultados positivos serão obtidos, não é o que se vê, na prática, em grande maioria das empresas brasileiras. Ainda e infelizmente.
Eduardo Moura, com mais de trinta anos de experiência e atual diretor de empresa especializada no assunto, a Qualiplus Excelência Empresarial, escreveu um artigo, publicado em 16/06/2015, no qual constata que essa virtude organizacional (a cultura da excelência), ainda é extremamente rara no meio empresarial. Através de exemplos (8) que demonstram existir falta de sincronia entre direção e empregados e destes com os objetivos, os valores e as missões das empresas, Eduardo Moura conclui que “é difícil encontrar uma empresa de certo porte que não tenha valores, missão e visão definidos. Mas é igualmente difícil encontrar empresas (de qualquer porte) que vão além da simples definição e publicação de valores, missão e visão. Apenas uma reduzida minoria das organizações têm seus valores, missão e visão inculcados nas mentes e nos corações das pessoas que integram seus quadros. E sem uma forte afinidade de princípios compartilhados e de um propósito comum, pode-se afirmar que é impossível estabelecer uma genuína e permanente cultura de excelência, por mais discursos apaixonados que se façam a respeito”.
Como já detectado em 1994, por James Collins e Jerry Porras ao escreverem o famoso livro ‘Feitas para Durar’, “a variável crucial não é o conteúdo da ideologia da empresa, mas quão profundamente ela acredita em sua ideologia e quão consistentemente a vive e expressa em tudo que faz”. É importante relembrar, também, ainda segundo Collins e Porras, que “embora os valores fundamentais de uma companhia visionária (vitoriosa e duradoura) formem um alicerce totalmente firme e não acompanham as tendências ou modas passageiras, elas não são empresas conservadoras, pois sempre estabelecem metas audaciosas e difíceis de atingir”.
Ao escrever o artigo “Duas narrativas sobre a Previdência” para O Globo deste último dia 04, Demétrio Magnoli concorda com o fato de que, embora as reformas previdenciárias sejam impopulares em todos os países, na medida em que atingem expectativas universais de direitos pecuniários, elas têm avançado, inclusive, em países como a França. E indaga: “por que, então, nada similar acontece no Brasil?”. A resposta que ele mesmo dá é que o Brasil, “país de colonos empenhados em ‘fazer a América’, o interesse privado suplantou o interesse público” (grifos meus) e que após o período Vargas, com um Estado transformado em “fonte universal de oferta de direitos”, nós, brasileiros, passamos a desprezar os “bens públicos de usufruto geral (escolas, hospitais, redes de saneamento, transportes urbanos, parques, museus, bibliotecas) e nos agarramos “a direitos pecuniários de usufruto individual (aposentadorias, pensões, bolsas, cotas, cestas básicas, passes livres, meias-entradas)”. Embora possa haver centenas de explicações para que isso tenha ocorrido, estamos diante de uma clara falha na formação cultural do brasileiro, na qual o interesse coletivo e a busca da igualdade social foram deixados de lado!
Essa cultura brasileira individualista, que também contempla o “jeitinho” (9), a “lei do menor esforço”, a exagerada “tutela de um estado cada vez mais patrimonialista”, de excesso de “direitos e poucos deveres” (10), de que “a culpa é dos outros” e de que o “estado tudo pode”, entre outras características ‘menos votadas’, é que tem contribuído para que a corrupção e o conluio entre políticos e empresários progredissem de forma assustadora no Brasil, como agora está sendo farta e transparentemente demonstrado pela Operação Lava Jato.
Infelizmente, como também demonstrou recente pesquisa realizada pela Protiviti, consultoria global especializada em gestão de riscos e compliance, em 100% dos casos de fraude analisados havia o envolvimento de um profissional da empresa vítima. 57% deles eram funcionários de cargos executivos que tinham autonomia para a tomada de decisões e em 24% das fraudes investigadas, houve a participação de uma "empresa vírus", companhia criada com o objetivo de cometer ações ilícitas. A reportagem foi feita por Nathália Larghi, de O Estado de São Paulo e publicada dia 03/05/17 (11).
Já enraizada na cultura brasileira, essa total inversão de valores, existente desde os tempos de colônia, foi ‘revigorada e profissionalizada’ nos governos petistas. Mais lamentável ainda foi o fato de que, mesmo com a “crise econômica anunciada” (ou ‘contratada’), parte significativa do grande empresariado brasileiro apoiou entusiasticamente esses governos, avançou vorazmente nos benefícios governamentais, aproveitando-se ao máximo e enquanto pode (12). Ora, esse “capitalismo de compadres” (mas também uma democracia de compadres, nas palavras do antropólogo Roberto DaMatta), além de tudo, não estimula a criatividade e a inovação, principalmente junto aos empreendedores privados, exatamente no momento em que tais características são cada vez mais imprescindíveis ao crescimento e desenvolvimento econômico, político e da sociedade de uma forma geral.
No Brasil, por passar a fazer parte de nossa cultura, a corrupção tem levando a maioria dos brasileiros a nem sequer ficar indignado ao tomar conhecimento de mais um roubo, de mais uma propina ou de mais uma trapaça realizada pelas quadrilhas que se instalaram em todos os poderes e de todas as esferas e instâncias de nossa República. Semelhante ao que acontece com relação às notícias sobre violência, também as notícias sobre corrupção passaram a ser rotina, para todos nós brasileiros. Desta forma, lamentavelmente, ficou muito mais fácil racionalizar e aceitar o fato de que, em uma sociedade na qual todos trapaceiam, uma pequena trapaçazinha pessoal não deverá fazer mal a ninguém!
Contrariando um dos fundamentos básicos da sociologia (“a sociedade jamais nos impede de sermos nós mesmos”) e como se fosse uma avalanche incontrolável, somos quase todos levados para o mesmo caminho. Ignorando que cada pessoa ou cada empresa pode (e deveria sempre) tomar o controle de seus próprios destinos, corromper ou ser corrompido passou a ser uma prática comum e muito pouco questionável. O “jeitinho brasileiro” e a “lei do menor esforço” passaram a ser utilizados, por grande maioria da população brasileira, como expedientes normais para se alcançar tudo o que seja possível. Uma dura e triste realidade.
Como escreveu o antropólogo Roberto DaMatta, em artigo publicado pelo Estadão do dia 19/04/17 (“Um Brasil comprado”): “nossa revolução é a da malandragem. Nada contra. Mas ela — eis crise que nos envergonha — também tem limites”. “Nosso problema não é apenas de legislação, mas de uma revolução nas práticas sociais marcadas por toda sorte de privilégio. Na crença inocente de que podemos mudar nossas rotinas de poder, sem transformar radicalmente nossa sociedade ... colaboramos para que continue “esse enlace incestuoso entre o pessoal e o impessoal, entre a igualdade legal e as hierarquias tradicionais, que legitima as brutais ultrapassagens naquilo que Lívia Barbosa estudou magistralmente como o “jeitinho” e este vosso cronista denunciou na desmontagem sociológica do “Você sabe com quem está falando?”, em 1979”
Embora todos nós saibamos que o mundo passa por mudanças drásticas, a preparação para encará-las não tem sido tão comum como deveria. Como já havia comentado Thomas L. Friedman, em 2005, ao escrever o livro “O Mundo é Plano”: “tudo sofre consequência. Onde começa e onde termina a empresa? Onde começa e onde termina o indivíduo, o cidadão ou o consumidor?” E complementa, “ter uma população bem preparada, capaz não só de conquistar a sua própria fatia do grande bolo global como de inventar seus próprios pedaços, é fundamental”. E continua: “dar relevância ao aspecto cultural é imprescindível para participar do mundo plano”.
No caso de combate às fraudes, por exemplo, e segundo analistas consultados pela reportagem já mencionada do Estadão, além das investigações e das punições aos infratores, uma das medidas mais eficientes é a melhoria do processo de seleção que, além do currículo e das experiências profissionais do candidato, devem ser levados em consideração a flexibilidade moral dos profissionais, sua percepção de ética e sua propensão a se envolver em riscos (grifos meus). Renato Santos, da S2 Consultoria, por exemplo, “explica que muitas vezes o fraudador não entende aquele ato como algo errado e, ao avaliar os riscos e benefícios que aquela ação pode gerar, acaba constatando que a fraude é um bom negócio” (grifos meus). “Por isso, é fundamental que as empresas internalizem para seus funcionários que ética é importante para a longevidade da empresa, para o bem-estar dos funcionários (grifos meus) e que aquele é um ambiente que não tolera fraudes”. Ainda, segundo a reportagem, é preciso falar de ética o tempo todo e ser um tema da organização, e não somente em momentos específicos, como treinamentos ou fóruns. A ética deve fazer parte da vida de cada um, “tanto na forma de relacionamento interpessoal como na maneira que se trata o cliente, o concorrente e a produção”. Segundo Hencsey, da Protiviti, “os próprios funcionários vão proteger aquele ambiente e denunciar caso algo pareça errado".
Aqui, permito-me reproduzir um trecho do que escrevi em artigo já citado, ao comentar sobre educação no Brasil: “É preciso que a ‘grade’ curricular permita ao aluno, além de adquirir conhecimentos, formar-se como cidadão, consciente de seus deveres e direitos e com possibilidades de exercer livremente essa cidadania”. É preciso que o brasileiro se torne cada vez mais profissional, capacitado, preparado para a solução de problemas, voltado para o futuro, mas principalmente, consciente de sua cidadania e agente transformador. Ou como resumiu brilhantemente a escritora Lya Luft, em artigo escrito para a revista Veja de 03/02/16 (“Deseducando o Brasil”), o brasileiro precisa ser mais educado: “um povo educado é um povo informado, que saberá ter consciência de suas responsabilidades e escolher seu destino. Com a educação de todos, sem exceção, virão os demais benefícios necessários a um povo digno, como saúde, infraestrutura, segurança, economia equilibrada e florescente, ótimas relações com países estrangeiros e lugar de destaque entre as nações civilizadas”.
População mais educada, no sentido amplo da palavra, torna-se mais exigente e muito mais intolerante com a corrupção e com os erros que comumente, governo e a administração pública cometem. Como dito pelo filósofo Leandro Karnal (13): “seria bom acreditar que o sistema político é podre e a nação é ética. Isso nos tranquilizaria. Vou dizer uma coisa menos populista: acho que a política brasileira é o rosto da nação”.
Consequentemente, e aqui não há qualquer novidade, se a Educação é item imprescindível para que o País aumente sua produtividade e, através desta, seja mais competitivo, também é preciso compreender que a Educação é fundamental e necessária para que o Brasil avance e consiga participar do seletíssimo grupo de países desenvolvidos, nos quais a ética, o respeito ao bem público, à legislação e aos valores democráticos são características inegociáveis. A Educação, portanto, não só é o melhor caminho para que se promova o crescimento e o desenvolvimento de uma nação, mas é condição “sine qua non” para que o Estado Democrático de Direito seja construído, preservado e aperfeiçoado. Não importa se estamos querendo resolver os problemas econômicos, políticos ou sociais do Brasil. A Educação é fundamental.
(1) Assunto comentado por mim pelo menos em duas oportunidades. Em 2013, através de artigo publicado na Revista Mundo Logística (nº 36 de set/out de 2013), intitulado “O valor da capacitação profissional para o desempenho logístico” e outro no Guia do TRC do dia 03/06/2016, “Como o baixo nível educacional trava o Brasil”.
(2) Ken Robinson, consultor inglês especializado em educação e inovação, em uma entrevista dada para a Revista Veja, de 20/04/16, faz observação interessante: “desenvolver uma cultura na qual a inovação e a criatividade sejam estimuladas e encorajadas, tanto via educação, como através das próprias estratégias econômicas é um caminho que propicia grandes ganhos de produtividade e avanços tecnológicos”. Foi o que Robinson sugeriu às autoridades de Singapura, em meados da década 80 do século passado, que queriam transformar aquele país em um centro de desenvolvimento e criação. Pelos resultados obtidos, sabe-se que funcionou, pois o sistema de ensino naquele país é considerado como um dos mais evoluídos do mundo. Semelhante ao que ocorre nos Estados Unidos, na Europa, Hong Kong, Japão e Coréia, as aptidões de cada estudante são levadas em consideração na elaboração do currículo do ensino médio, fazendo com que os talentos existentes sejam cada vez mais bem aproveitados.
O economista Eric Hanushek, doutor em economia pelo MIT e professor da Universidade Stanford dos EUA, em entrevista realizada pela revista Veja (16/12/15), comentou sobre estudo feito em 80 países e constatou que “a boa formação escolar de uma população explica em torno de 75% do PIB”. “E olhe que estamos tratando apenas de conhecimento básico mesmo – matemática, linguagem, ciências e a capacidade de juntar as peças e solucionar problemas simples”. A educadora e coordenadora pedagógica do Grupo Horizontes, Neda L. M. Branco diz que “investir na linguagem, como centro do processo educativo e responsável pelo universo vocabular, pela leitura significativa e pela comunicação, tanto oral, quanto escrita, é primordial, pois só através dela é que o indivíduo terá acesso a todas as áreas do conhecimento. Linguagem e Pensamento são conceitos correlatos”. O coordenador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), matemático Marcelo Viana, por sua vez, em entrevista feita para a Revista Veja, de 27/04/2016, quando comentava sobre a relação entre educação e ciências e o PIB, corrobora esses comentários quando afirma, segundo estudos feitos na Inglaterra, que “uma boa base educacional e científica na área (matemática, no caso), aumenta o PIB do país em cerca de 10%. Isso ocorre porque, graças a uma matemática de excelência, a produtividade se eleva em campos como a computação e as engenharias, que fazem girar a roda da economia criando empregos muito acima da média”.
(3) “Ainda é difícil convencer as pessoas de que a inovação começa na educação de base. Ciência e tecnologia começam com a criança que o cientista foi no passado”, reclama o Senador Cristovam Buarque, quando da realização do Seminário ‘Caminhos para a Inovação’, em 2012 no Senado Federal. Registre-se, aliás, que essa frase resumiu a conclusão do seminário “Pesquisa, tecnologia e, finalmente, inovação”.
(4) E competência no conceito moderno, que se baseia em Comportamento, Habilidades, Atitudes, Agregação de Valores e Entrega dos Resultados. “Gestão Por Competência”, de Marcos Baumgartner (Publisher da revista TeD Inteligência Corporativa).
(5) No ano de 1991 os empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira resolveram disseminar, pelo Brasil afora, a cultura que os levou ao sucesso. Para tanto, criaram a Fundação Estudar, cujo objetivo maior, através da melhoria da qualidade de seus executivos e empreendedores, é simplesmente melhorar o País. A concessão de bolsas de estudos a jovens que queiram aperfeiçoar seus conhecimentos foi o caminho escolhido. Depois de 26 anos a Fundação Estudar contabiliza 617 ex-bolsistas, 25 mil jovens beneficiados pelos cursos e 15 milhões de pessoas alcançadas pelos canais disponíveis na internet.
(6) A fórmula é simples, pois se baseia em apenas seis pontos: 1) ter metas ambiciosas; 2) trabalhar duro; 3) unir-se a gente boa; 4) investir em conhecimento; 5) assumir o papel de protagonista; e 6) almejar um impacto positivo na sociedade. “Cultura da Excelência” é o nome do livro escrito pelo jornalista e escritor David Cohen, editado pela Editora Sextante, lançado no último dia 18 na Livraria Saraiva e que descreve sobre a trajetória da Fundação Estudar, seus valores, métodos e princípios. O livro também faz breves resumos de histórias de alguns dos jovens que tiveram a vida transformada pelo contato com sua cultura.
(7) A Fundação Nacional da Qualidade, criada em 1991 por 39 organizações, privadas e públicas, é uma instituição brasileira sem fins lucrativos, tem como objetivo, desenvolver os fundamentos da excelência da gestão organizacional, em todos os setores e portes com a finalidade única de melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro.
(8) Alguns exemplos citados por Eduardo Moura: “Existe o valor ‘honestidade’ mas não existe um código de ética que explique o que significa ser honesto em cada caso específico relevante (compras e contratações, por exemplo). Existe o princípio ‘valorizamos nosso pessoal’ mas não existem suficientes mecanismos formais que permitam a livre expressão, participação e o exercício da criatividade no trabalho. Prega-se o ‘procedimento ético’ mas, eventualmente e quando necessário, para não prejudicar o negócio, admite-se o pagamento de suborno a funcionários públicos corruptos”.
(9) “O jeitinho brasileiro” é o livro de Lívia Barbosa, editado pela Editora Campus em 2005.
(10) Luiz Felipe Pondé publicou, no último dia 1º, na Folha de São Paulo, o artigo intitulado “A ocupação evita pensar em bobagem; é do cansaço que nasce o caráter”, no qual ele defende a ideia de que “o caráter não brota numa assembleia de estudantes ou numa manifestação contra a desigualdade social. Pelo contrário, atividades assim mais deturpam o caráter do que o moldam, porque são atividades em que você só demanda e não dá nada em troca. Ter direitos não molda o caráter, cumprir deveres, sim. Um dos estragos do mundo contemporâneo é essa histeria por direitos em toda parte”. E complementa: “Sei que está fora de moda dizer isso. Na moda está é ser ressentido, mimado e cobrar direitos de todo mundo. A ocupação e o cansaço evitam que você pense em bobagem e sonhe com o impossível. É nesse silêncio do cansaço que nasce o caráter. No embate com o inevitável”.
(11) Segundo Hencsey, da Protiviti, "O caminho de entrada das empresas vírus pode ser através de uma facilitação do próprio fraudador, que é um funcionário interno. Ele pode ter o poder de tomar decisões que permitam a contratação da companhia ou que dispense a necessidade de justificar o porquê dessa escolha". “E mesmo que um funcionário não tenha autorização para decidir sozinho quem a empresa vai contratar, ele pode manipular os requisitos para fazer com que uma companhia seja escolhida”, complementa. "Primeiro ele racionaliza que aquilo não é tão errado ou pensa que todo mundo faz. Depois, ele analisa a questão da oportunidade e leva em consideração a necessidade", explica Renato Santos da S2 Consultoria. Às vezes ele quer trocar o carro, mudar de casa ou pode estar em um situação difícil, como doença na família. E por último ele avalia sua disposição ao risco. Ele verá qual a chance de ser pego e o que pode acontecer. Geralmente o fraudador tem a percepção de nunca deu errado, por que daria comigo? e pratica o ato”. A falta de punição das empresas aos profissionais fraudadores é outra motivação para que atos ilícitos sejam cometidos. Daiane Nabuco, diretora sênior da FTI Consulting, empresa de consultoria especializada em compliance, explica que muitas vezes as companhias apenas demitem o funcionário sem maiores explicações, por medo de que seu nome seja atribuído à fraude e fique sujo no mercado. “Falta de cuidado na escolha de profissionais e de empresas parceiras facilita fraude corporativa” é o título da reportagem feita pela jornalista Nathália Larghi, de O Estado de São Paulo, publicada dia 03/05/17.
(12) Como se constatou durante o processo de impeachment da presidente Dilma, a grande parte das chamadas ‘pedaladas fiscais’, se não a maior, foi feita para beneficiar os mais ricos. Os grandes empresários aproveitaram-se, e muito, dos subsídios oferecidos pelo Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES. Conforme a jornalista Miriam Leitão, os governos petistas adotaram várias políticas para beneficiarem as empresas mais ricas do País, sempre em detrimento daquelas menores e da maioria da população brasileira. Através de dinheiro barato ‘tirado’ do próprio tesouro (repassados ao BNDES e Banco do Brasil), do fechamento da economia para diminuição de competição junto aos setores escolhidos, da regulação tendenciosa que beneficiava alguns em detrimento de outros e da inflação, o governo fez o jogo dos ricos. Utilizando-se de forma crescente dos recursos públicos, o governo subtraiu renda dos mais pobres e transferiu para os mais ricos (“A quem se destina”, foi o artigo escrito por Miriam Leitão, em 15/10/2015, no jornal O Globo e reproduzido no livro “A verdade é teimosa: diários da crise que adiou o futuro”, editado pela Editora Intrínseca, em fevereiro deste ano). Ainda, segundo Miriam Leitão, “a política de escolher empresas que, com privilégios, liderariam o capitalismo brasileiro, foi copiada do governo militar com idêntico fracasso. Hoje o próprio BNDES afirma que a política dos campões nacionais foi abandonada. Isso depois que muitos empréstimos com juros negativos e compra de ações e debêntures beneficiaram os favoritos do banco. O custo das várias escolhas erradas não foi apresentado ao contribuinte“ (“Herança Dilma”, artigo de Miriam Leitão, publicado n’O Globo em 08/09/2013 e reproduzido no livro já citado).
(13) “Verdades e Mentiras – Ética e Democracia no Brasil”, livro de debates entre Mario S. Cortella, Gilberto Dimenstein, Leandro Karnal e Luiz F. Pondé, publicado pela Papirus, em 2016.